terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Outras Formas de Ser um Auxílio

Ao considerarmos o auxílio que podemos dar aos outros, não devemos nos sentir desamparados mesmo se não tivermos o dom de pastor. Há muitas formas que o auxílio pode tomar, e o grau de ajuda que alguém pode oferecer será determinado não apenas pelo dom individual, mas também por sua maturidade e sabedoria nas coisas espirituais. Isto, por sua vez, dependerá muito do quão próximo a pessoa estiver andando com o Senhor. Assim como "a oração [fervente] feita por um justo pode muito em seus efeitos" (Tiago 5:16), assim um crente que está vivendo em proximidade com o Senhor terá a mente dEle e será de muito maior ajuda em tais situações do que um que é meramente inteligente, em um sentido natural. Além disso, como vimos nas Escrituras que já citamos de 2 Coríntios 1:3-6, é muitas vezes aquele que, ele próprio, já passou por dificuldades, que pode ajudar o próximo que está passando por uma provação similar. Isto não é o mesmo que dizer que precisamos experimentar a doença mental de modo a sermos capazes de ajudar outro crente que tem esse problema, mas faz-nos perceber que aqueles que já passaram por provações com o Senhor são geralmente mais equipados para auxiliar outros do que aqueles que podem ter tido um caminho mais fácil.

O auxílio dado pode tomar diferentes formas. Às vezes, a simples preocupação e companheirismo do outro, com o conhecimento de que outros estão orando por ele, podem ser de imensurável ajuda a alguém que está sofrento de doença mental. Provavelmente, muito do que se passa por doença mental neste mundo está relacionado à falta (ou falta aparente) de amor e entendimento por parte dos outros, e o cuidado e preocupação expressa pelos outros muitas vezes contribuem muito para com o alívio dos sintomas. Devemos estar dispostos a sermos bons ouvintes, a aceitarmos a pessoa (não seu pecado), e orar tanto com ela quanto por ela. É claro que sabedoria deve ser usada aqui, e um entendimento do problema particular do indivíduo ditará como o auxílio pode ser dado. Por exemplo, pessoas que estão deprimidas são geralmente mais ajudadas por visitas curtas daqueles que são otimistas e positivos, ao mesmo tempo em que são sérias e capazes de comiserar com a pessoa sobre seus sentimentos. Elas não são ajudadas por longas visitas e longas exortações das Escrituras.

Se sentimos que conhecemos e entendemos o indivíduo mais profundamente, e podemos passar mais tempo com ele, então podemos ser capazes, gentilmente, de sondar as dificuldades ou experiências passadas que possam estar contribuindo para com o problema. Isto requer muita sabedoria e dependência do Senhor, pois tal tipo de aconselhamento é algo sério de empreender, e não deveria ser tratado levianamente. Já vimos que a doença mental é complicada, e o tratamento deve ser aplicado com cautela. Ao tentar ajudar alguém nessa situação, devemos ser cuidadosos para não fazermos declarações definitivas sobre eles e sobre sua doença a menos que estejamos muito certos sobre o quê estamos falando. Muito mal já foi feito por aqueles que, tendo apenas uma visão simplista e desequilibrada da doença mental, fizeram julgamentos rápidos e declarações precipitadas. Como resultado, às vezes o conselho impensado e ingênuo é dado em vez de uma sabedoria piedosa. Em vez disso é melhor fazer perguntas, compreender a pessoa e conduzir seus pensamentos  de modo que eventualmente ela verá por si mesma o ponto que precisa ser tratado. Conhecimento da Palavra de Deus é necessário, assim como a maturidade espiritual para aplicá-la corretamente, mas isto também deve vir acompanhado da direção do Senhor. Frequentemente Ele nos dará uma passagem e um pensamento específico das Escrituras para colocar diante de alguém que lidará com o problema, trazendo-o na presença do Senhor. Nosso objetivo deveria ser, não de ter domínio sobre a fé deles, mas sim de sermos cooperadores de sua alegria -- veja 2 Coríntios 1:24.

Muitas vezes indivíduos sofrendo de doença mental precisarão ser "carregados" por algum tempo, pois eles parecem melhorar e então têm uma recaída em pensamentos e comportamentos similares novamente. Não devemos deixá-los ir tão cedo, e devemos estar prontos para ajudar quando o problema retorna. Aqueles com doenças mais severas podem ter de ser carregados, até certo ponto, durante toda a sua vida.

Confiando nos Outros

Outra dificuldade surge, particularmente com a doença mental, porque os crentes sentem-se embarassados e hesitantes em confiar em alguém que os conhece bem, e com quem talvez vivam e convivam regularmente. Eles sentem-se envergonhados de admitir que um problema tal qual a doença mental exista, e talvez temem tornarem-se assunto de fofocas. Infelizmente tais temores são, às vezes, jutificados. Como resultado, alguns crentes podem buscar ajuda de fontes mundanas em vez de serem ajudados por um verdadeiro pastor.

Deveríamos estar sempre dispostos a confiarmos mais uns nos outros, pois as Escrituras nos dizem para "confessar as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis" (Tiago 5:16). Creio que essa cura inclui as doenças mentais, assim como as físicas. Se houvesse maior disposição em reconhecer tais problemas, confessá-los uns aos outros, e orarmos juntos, creio que veríamos mais resultados positivos. Tal confissão não significa "querer se aparecer", onde deliberadamente buscamos em nosso coração e experiência quantas falhas pudermos lembrar, apenas para espalhá-las a nossos companheiros crentes. Não, não é isso o que as Escrituras querem dizer, pois Deus nunca nos ocupa com o pecado e a falha exceto para nos fazer tratar disso. Mas se uma dificuldade particular se apresenta em minha vida, seja física ou mental, que possamos ter a graça de primeiramente trazê-la perante o Senhor, e então estarmos dispostos a mencioná-la a outros, pedindo que orem por nós. Lembremo-nos também que todos nós sentimos os efeitos do pecado em nossas pessoas, de um modo ou de outro. Se alguns passam por maiores dificuldades do que outros, é apenas uma oportunidade para que a graça de Deus possa abundar.

O Dom de Pastor

Aqui é onde entra o dom de pastor, um dom que é muito necessário, mas talvez muito raro. É um dom que muitas vezes não é apreciado como se deveria. Por causa da natureza da obra pastoral, pouca glória humana é associada a ela, pois ela é exercida, na maior parte, nos bastidores. É dispendiosa e às vezes não apreciada nem mesmo por aqueles a quem está sendo dirigida. Ainda assim, tal dom, quando adequadamente usado perante o Senhor, pode ser de valor inestimável em casos de doença mental entre os crentes. O valor de tal dom é expresso como segue:
"Eu creio que um pastor é um dom raro... Um pastor deve ser como um médico; ele deve conhecer o verdadeiro alimento, e o verdadeiro medicamento, e o verdadeito diagnóstico, e toda a "pharmacopoeia", e também deve saber como aplicar isso tudo. Em um sentido é um dom raro, e muito precioso." *
{* Darby, J. N., Substance of a Reading on Ephesians. (The Collected Writings of J. N. Darby, Vol. 27, Stow Hill Ed.), pg. 74 }

Outro comentou de modo similar:
"Parece-nos que um pastor é para a alma o que um médico é para o corpo. Ele deve ser capaz de sentir o pulso espiritual. Ele deve entender a doença e o remédio. Ele deve ser capaz de dizer qual é o problema, e qual remédios aplicar. Infelizmente, quão poucos médicos adequados há. Talvez sejam tão raros como pastores adequados. Uma coisa é tomar para si um título, e outra coisa é fazer a obra". *
{* Mackintosh, C. H., Publicly and From House to House. (Things New and Old, Vol. 19), pg. 130 }

Há duas dificuldades ligadas à obra de um pastor. Já falamos de uma delas, a saber, a raridade do dom. Quantas vezes uma pessoa anseia pelo coração de um verdadeiro pastor, sobre quem as dificuldades possam ser derramadas! Mesmo que alguém tenha o dom de um pastor, a pressão e a correria dos dias em que vivemos às vezes tornam difícil para que se tome o tempo para o verdadeiro trabalho que é necessário nesse caminho. O ensino e o ministério público podem ser muito úteis, mas muitas vezes erram o alvo pois passam sobre as cabeças daqueles que mais precisam. É na obra pastoral que a verdadeira natureza das dificuldades pode ser descoberta, e as palavras certas dadas.

Escrituras, Psicologia e Psiquiatria

Nesta área do espiritual, as Escrituras e a psicologia (e psiquiatria) podem conflitar entre si. As Escrituras são a revelação de Deus ao homem, e deste modo faz muitas coisas além das capacidades humanas. Elas dão vida através do Espírito, ela julga (mas não é julgada pelo homem), e ela se comunica com o homem, dando-lhe todas as coisas que pertencem à vida e à piedade. Assim ela alimenta sua alma. Ela explica ao homem sua natureza e seu comportamento, o que o anima, e o que o controla. Além disso, ela diz-lhe o que são seus relacionamentos morais, e quais são suas responsabilidades nesses relacionamentos. A psicologia, por outro lado, é o estudo da natureza humana sem referência a Deus ou à Sua revelação, e assim não pode, em si mesma, erguer-se além da observação do homem. Ela não pode descobrir "leis" que expliquem a natureza das coisas como Deus as projetou: ela pode descobrir apenas "padrões" que foram observados como sendo geralmente verdadeiros, mas que por si só não explicam a natureza das coisas.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Físico vs. Espiritual

Mostramos que a doença mental comumente envolve múltiplos fatores, incluindo o corpo (o cérebro) e a alma e espírito, assim como as circunstâncias que podem neles agir. Medicamentos e outras modalidades (tais como tratamento de eletrochoque) podem às vezes ser necessárias para ajudar o cérebro a funcionar melhor, enquanto a terapia na forma da escuta, interpretação e aconselhamento é necessária para ajudar a alma e o espírito. Há um ponto importante a ser feito aqui. Os aspectos físicos do tratamento (o uso de drogas, etc.) precisarão de supervisão profissional, mas para o crente, assuntos da alma e espírito são melhor atendidas por outros crentes espirituais. Profissionais (como os psiquiatras) podem, é claro, ser úteis em diagnosticar uma doença em particular, baseado na constelação de sintomas que apontam para um distúrbio específico. Ele pode também ser muito útil para reconhecer fatores que possam ter contribuído para com o surgimento da doença. Mas, enquanto a ciência descobriu muitas coisas para tratar o mal funcionamento do corpo (neste caso o cérebro), ela não pode tratar o comportamento moral que é afetado por uma alma e espírito distorcidos e um cérebro perturbado. Quando a doença envolve o espiritual, estamos fora do domínio da ciência e em uma área que precisa de uma revelação de Deus.

Auxílio de Outros Crentes

"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação;
Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.
Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo".
(2 Coríntios 1:3-5)

É o feliz privilégio de muitos de nós que somos crente no Senhor Jesus Cristo sermos um auxílio para outros crentes de vez em quando, e talvez isto seja muito necessário e apreciado no que diz respeito à doença mental. Isso é verdade, quer o distúbio seja mais suave, quer em tempos de tristeza ou estresse, ou quer estejamos lidando com um caso de psicose severa, no qual o indivíduo se encontra fora de si. Os versículos citados acima nos mostram claramente que Deus, nosso Pai, é a fonte de todas as verdadeiras misericórdias e consolações, e ainda assim Ele nos dá o privilégio de mostrar o mesmo amor e cuidado pelos outros assim como Ele mostrou a nós. Assim nos é dito em Gálatas 6:2: "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo".

A Graça de Deus

Nosso bendito Senhor quer que confiemos nEle como aquEle que nos conhece e nos ama. De acordo com isso, sugerimos que o que é necessário, mais do que qualquer outra coisa, para o crente que sofre de doença mental, é um profundo entendimento, na alma, da graça de Deus. Devemos ver que a graça de Deus é Seu favor imerecido, e que ela foi estendida a nós quando não havia nada em nós para amar. Quando vemos que Ele nos ama apesar do nosso pecado (pecado que trazemos sobre nós mesmos pela desobediência), e que Ele enviou Seu Filho para morrer por nós, percebemos quanto amor há em Seu coração para conosco. Vemos mais e mais da verdade de Romanos 8:32: "Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?". Isto não implica que a graça de Deus simplesmente removerá toda a dor da doença mental mais do que Ele remove de nossas doenças físicas. Em vez disso, ele nos mostra que aquEle que enviou Seu Filho para morrer por nós para que possamos passar a eternidade com Ele é certamente capaz de nos ajudar a lidar com questões que têm a ver com nossas vidas aqui neste mundo.

Quando realmente apreciamos a graça de Deus, não iremos chafurdar em auto-piedade, ou tornarmo-nos raivosos, ou desistir em desespero. Em vez disso, aceitaremos tudo de Deus, e assim como o Senhor Jesus no jardim de Getsêmani, usaremos da oportunidade para nos aproximarmos mais do Senhor em comunhão com Ele. Buscaremos a força dEle em vez de encararmos a dificuldade com nossas próprias forças. Outra pessoa expressou isso muito bem:
"Se eu ouvir más notícias... isto me entristecerá e me derrubará, como aconteceu com Paulo, que passou por lutas por fora e temores por dentro. Mas, apesar de tão doloroso, se Satanás não tiver nada em nós, a consequência dessa depressão será comunhão com Deus, em vez de permitirmos que nossas afeições vagueem; estamos na presença de Deus, vigiamos com Ele de modo a falarmos com Ele; mas se este não for o caso, Satanás nos pegará despercebidos em momentos de descuido"*
{* Darby, J. N., Notes on the Epistle to the Ephesians. (The Collected Writings of J. N. Darby, Vol. 27, Stow Hill Ed.), pg. 58}

Mencionamos anteriormente o assunto das más experiências ou dores do passado que podem envolver nosso pensamento e alterar nosso comportamento. Embora seja desejável abordar essas coisas com aqueles responsáveis por elas, isto nem sempre é possível. Creio que possamos colocar essas coisas na presença de Deus, e em Seu entendimento e simpatia poderemos experimentar cura e bênção. O salmista podia dizer: "Porque a tua benignidade é melhor do que a vida, os meus lábios te louvarão" (Salmos 63:3). Certamente conhecer e experimentar Sua benignidade (bondade amorosa) é melhor do que qualquer coisa que o homem possa fornecer no que diz respeito à cura. Não temos que viver sob a terrível sombra de dores do passado por toda a nossa vida. Precisamos ser trazidos de volta à cruz onde vemos nosso bendito Salvador lidando com tudo isso por nós, e onde Ele levou o juízo de Deus sozinho, de modo que pudéssemos ser curados. No jardim do Getsêmani, o Senhor Jesus passou por toda a agonia da cruz ao contemplá-la, e o fez sozinho na presença de Seu Pai. Ninguém entendeu realmente o que estava acontecendo, e mesmo assim o coração do Pai foi suficiente para Ele. Saindo daquele lugar, Ele podia calmamente encarar qualquer coisa que o Pai colocasse diante dEle.

Além disso, precisamos contar com a graça de Deus e pedirmos mais dela a Ele se sentirmos necessidade dela. A Paulo foi dado um espinho na carne, provavelmente algo físico, embora o Espírito de Deus não nos tenha dito exatamente o que era. De qualquer modo, isto o incomodava tanto que ele pediu ao Senhor três vezes que o tirasse. A resposta do Senhor foi: "A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Coríntios 12:9). Outra pessoa comentou sobre o assunto: "Sabedoria e filosofia nunca descobriram Deus: Ele se faz conhecer a nós através de nossas necessidades; a necessidade O encontra"*. Sem dúvidas, Paulo veio a conhecer o Senhor de um modo que ele não poderia se não tivesse esse problema, na graça que lhe foi dada em conexão com esse espinho na carne. Embora devamos hesitar em sugerir que a doença mental é permitida na vida de alguns de modo a permitir-lhes que venham a conhecer melhor o Senhor, ainda assim sabemos que em nossas necessidades, sejam físicas, espirituais, mentais ou materiais, Deus Se faz mais precioso para nós se tomarmos isso como vindo dEle. Paulo descobriu, como muitos outros crentes, que Deus podia usá-lo melhor em fraqueza do que em sua própria força, pois então ele teria que confiar mais no Senhor e andar em Sua força. Assim como muitos santos de Deus têm necessitado confiar na força do Senhor por causa da doença física, assim o crente pode ir ao Senhor com suas fraquezas e incapacidades mentais, pedindo a Ele a força para ajudá-lo a continuar. Sugerimos que muitos vieram a conhecer o Senhor de uma maneira mais rica e plena ao ver como Ele pode dar a graça para cada enfermidade, até mesmo  para a doença mental.

{* Darby, J. N., Parables of Luke 15. (The Collected Writings of J. N. Darby, Vol. 12, Stow Hill Ed.), pg. 168}

Concluímos esta seção com uma citação de Romanos 8. Nesse capítulo Paulo faz a pergunta: "Quem nos separará do amor de Cristo?" (Romanos 8:35) Ele então continua nos mostrando que nada pode nos separar do amor de Cristo, sejam coisas nesta vida, tais como tribulações, perigos, a espada, etc., ou coisas além do controle humano, tais como os anjos, a morte, as coisas futuras, etc. Eu sugeriria que a doença mental está incluída nessas categorias.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Responsabilidade Moral

Conectado a essa verdade está o importante princípio que mencionamos anteriormente, a saber, que somos sempre moralmente responsáveis pelos motivos de nosso comportamento. Não podemos jogar a culpa do comportamento pecaminoso em algum distúrbio biológico no cérebro. Do mesmo modo, não podemos jogar a culpa nas circunstâncias difíceis ou em alguma experiência ruim do passado, como se não fôssemos responsáveis pelo que fazemos. (Infelizmente há muito dessas desculpas de mal comportamento no mundo hoje). Nem podemos escusar nossa falha em não conseguirmos ser como Cristo tomando refúgio em nossas dores corporais, como se não pudéssemos fazer nada.  Como dissemos anteriormente, certamente as doenças mentais e físicas podem tornar-nos mais vulneráveis a um ataque de Satanás e assim tornar mais fácil o pecar, mas não podemos usar isso como uma desculpa pelo comportamento errado.

Nosso comportamento pode ser simplesmente anormal e, assim, de certo modo censurável por nós mesmos e por outras pessoas, e às vezes pode ser claramente pecaminoso. Como já observamos, às vezes a linha entre ambos os casos é fina. No final, apenas o Senhor conhece perfeitamente todos os fatores que contribuíram para nosso estado mental alterado e talvez para nosso comportamento anormal. Na presença do Senhor podemos abrir nossos corações a Ele, que conhece todas as coisas, e que se importa conosco como um pastor cuida de Sua ovelha. Lemos em Isaías 53:4: "Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si", e certamente isto inclui as dores da doença mental assim como a enfermidade que podemos experimentar. William Kelly comenta sobre esse versículo de um modo muito útil:
"Ele estava aqui neste mundo em graça, passando por um mundo arruinado, necessitado e triste, pronto a ajudar a qualquer que viesse a Ele, todos os que Lhe eram trazidos, endemoniados ou doentes; e uma palavra era suficiente para o pior. Assim foi cumprido Isaías 53:4 (não ainda a obra vicária [substitutiva] do versículo 5, em sequência). Certamente aquilo não era sacrificial... era o poder que dissipava a doença de qualquer paciente que entrava em contato com Ele; e isso tudo não como alguém em distância insensível, mas alguém que (em amor tão profundo como Seu poder) tomou tudo, levou tudo, sobre Seu espírito com Deus."*

{* Kelly, W., Christ Tempted and Sympathizing. (The Bible Treasury, Vol. 20), pg. 189}

domingo, 10 de dezembro de 2017

Lidando com o Pecado -- A Raiz

Há muitos versículos na Bíblia que nos mostram claramente que o sangue de Cristo lançou fora de vista os pecados do crente. Em passagens como Romanos 6, a questão do pecado é tratada, em sua raiz e princípio. Ali encontramos a verdade mais a fundo de que na morte de Cristo, Deus viu o fim moral do homem natural. "Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado" (Romanos 6:6). Deus nunca perdoa a velha natureza -- morte é o único remédio para ela. Por causa da morte de Cristo, somos agora capazes de obedecer ao comando de "considerai-vos certamente mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 6:11). Uma vez que o crente que está "em Cristo" morreu também para o pecado, ele é instruído a tomar essa posição na prática, pois foi colocado nessa posição pela morte de Cristo. Como já mencionamos, a realização prática disso é algo progressivo na vida do crente. Devemos estar prontos a desistir de nós mesmos quanto a nossa velha natureza, se formos permitir que Cristo viva em nós. Quando fomos salvos tínhamos que chegar ao fim de nós mesmos, percebendo nossa completa incapacidade de nos livrarmos de nossos pecados por nós mesmos. Na vida cristã devemos também perceber a total ruína do "homem velho" (o que somos como membros da raça caída) se quisermos andar como cristãos da maneira correta. Enquanto nos concentrarmos em meramente controlar o mau comportamento, nunca perceberemos qualquer alívio permanente do pecado voluntário.

Ao dizer essas coisas, reiteramos o que foi mencionado anteriormente, a saber, que o pecado que permitimos em nossa vida é apenas uma causa que contribui para a doença mental. Nos demoramos nisto um pouco aqui porque é um grande fator que contribui para isso e que é provavelmente mais difundido do que percebemos, e para o qual nem sempre é dada a atenção merecida. Por outro lado, não queremos que o leitor deduza a partir destes comentários que estamos querendo dizer que toda doença mental é devida ao pecado voluntário. Em vez disso, estamos dizendo que é um fator que deve ser considerado, e se presente, deve ser tratado.

O Sofrimento como um Resultado do Pecado Voluntário

Mesmo que causemos alguns dos problemas pelos nossos próprios pecados que permitimos, lembremo-nos que se viermos ao Senhor falar sobre isso, Ele sempre nos encontrará em amor. Eu conheci um homem (já com o Senhor) que tinha perdido sua juventude e que sofreu de dano cerebral permanente como resultado do constante abuso de álcool. Ele foi obrigado a passar o resto de sua vida em uma instituição, e sua atitude e comportamento inicialmente dificultaram bastante para os funcionários que estavam ali para cuidar dele. Mas então ele aceitou o Senhor Jesus como seu Salvador, e embora suas capacidades mentais ainda fossem muito limitadas e seu comportamento não totalmente normal, a mudança nele foi marcante. Ele tornou-se fácil de lidar, sempre levava um sorriso no rosto, amava falar sobre o Senhor, e tomava parte proeminente no cântico de hinos que ocasionalmente ocorria no lugar em que vivia. Ele eventualmente faleceu, com idade relativamente jovem, mas ele foi certamente um caso onde "ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia" (2 Coríntios 4:16).

Se há pecado em nossa vida que contribui para com o problema, podemos trazê-lo diante do Senhor e lidar com isso. Muito do estresse em nossa vida deriva disso, e talvez nem sequer percebamos. Novamente, e gostaria de enfatizar muito bem este ponto. Muitos queridos crentes estão, de fato, tentando andar como filhos da luz. À medida que falhamos em produzir o fruto dessa luz, podemos nos tornar desiludidos pois somos dirigidos por algo que vem do profundo de nosso interior e que ainda não compreendemos. Talvez tenhamos entendido corretamente a salvação como um presente gratuito, mas não ter entendido que devemos operá-la com temor e tremor (Filipenses 2:12). Não entendemos adequadamente que a santificação (sermos separados para Cristo) é um processo assim como uma posição. Assim, tendemos a forçar em termos de controlar o comportamento em vez de o fazermos pela renovação da mente (Romanos 12:2). Em vez de um comportamento realmente mudado, o resultado é a repressão da carne em vez de morte para ela. Controlamos as tendências más enquanto permitimos que permaneçam armazenadas no coração. Então, quando o comportamento entra em erupção, o que não é de acordo com Cristo, lutamos intensamente para controlar o comportamento ou repreender o diabo (que teve matéria-prima para trabalhar, mesmo que tenha sido ele quem disparou o comportamento), em vez de lidar com a verdadeira raiz do problema.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Ele Dá Graça

Se o problema decorre principalmente de uma tendência hereditária a um distúrbio de comportamento em particular, Ele pode nos dar a graça para tomar isso dEle, e para viver para Sua glória apesar disso. Ele pode nos mostrar que tipo de tratamento pode ser útil, e pode nos ajudar a ordenar nossas vidas de modo a sermos capazes de lidar com o problema.

Se o assunto envolve circunstâncias difíceis, talvez pelo estresse na família ou no local de trabalho, Ele deseja que coloquemos o fardo sobre Si. Ele disse: "Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" (1 Pedro 5:7). Ele nos dará graça para suportar as circunstâncias difíceis, pois Ele experimentou o mesmo. Assim como Ele glorificou o Pai nas circunstâncias mais difíceis, assim Ele deseja dar-nos graça para assim fazê-lo também. Se alguma mudança em nossas circunstâncias forem úteis para aliviar o estresse, Ele nos mostrará como fazê-lo. Isto não significa dizer que Ele necessariamente retirará a fonte do problema, mas ao trazermos o assunto perante Ele podemos buscar e esperar Sua simpatia e direção. Ele pode nos ajudar a não "quebrarmos" sob o peso das circunstâncias, e em vez disso nos dar a força para sermos vencedores.




domingo, 26 de novembro de 2017

Nosso Compreensivo Sumo Sacerdote

Já nos referimos ao Senhor Jesus como tendo passado por todo tipo de sofrimento e circunstâncias difíceis que um homem sem pecado poderia passar, até mesmo a perfeita depressão que lhe sobreveio ao contemplar e eventualmente passar pelos Seus sofrimentos na cruz. Vimos como Ele aceitou isso tudo das mãos de Seu Pai, e assim, em perfeição, continuou em comunhão com Seu Pai em tudo isso. Como resultado, Ele é agora capaz de ser um "misericordioso e fiel sumo sacerdote" (Hebreus 2:17) para aqueles que também estão passando pelas dificuldades do caminho cristão.

É claro que seria blasfemo sugerir que nosso bendito Senhor Jesus tenha sofrido alguma doença vinda de dentro de Si, seja física ou mental, mas ao passar por todas as circunstâncias que podemos ser chamados também a passar, Ele experimentou, vindo de fora de Si, todo o mal que havia no mundo. Por causa de Sua natureza santa e por causa de Seu amor, Ele sentiu tudo isso como nenhum outro poderia. Era comum que os homens perdessem a razão por consequência de uma flagelação romana, mesmo assim o Senhor Jesus suportou tudo isso, e "deu o testemunho de boa confissão" (1 Timóteo 6:13) perante Pilatos mais tarde. Já observamos que em Mateus 26:37 (versão de J. N. Darby) é dito que o Senhor Jesus ficou "triste e profundamente deprimido" no jardim de Getsêmani, mostrando que Ele sentiu grandemente a perspectiva de ser feito pecado por nós. Ainda assim Ele podia, ao mesmo tempo, pensar no bem-estar espiritual dos outros, dizendo aos Seus discípulos que orassem para que não entrassem em tentação. Assim nosso bendito Senhor está lá por nós, não como Alguém que não passou por nenhuma de nossas provas, mas que foi provado em tudo pelo que estamos passando, embora fosse sem pecado. Ele quer que venhamos a Ele com nossas enfermidades e fraquezas, de modo a obter misericórdia e graça para nos ajudar quando precisamos.

Apesar de não querermos sugerir que a doença mental é permitido por Deus simplesmente para nos tornar mais dependentes do Senhor, ainda assim é verdade que a natureza única de um distúrbio mental nos impele a buscarmos ao Senhor de um modo que talvez a mera doença física não faça. Alguém observou que Ele reserva Suas mais ricas cordialidades (estimulantes) para nossas mais profundas necessidades. Assim somos levados a sugerir que o Senhor deseja que nos aproximemos primeiramente dEle em nossas dificuldades, primeiramente em submissão e aceitação do problema permitido por Ele, e então em um espírito de súplica por Sua ajuda no assunto. Finalmente, apenas Ele pode curar, e apenas Ele pode direcionar quanto a que formas adicionais de tratamento devemos buscar. Não podemos enfatizar isto com muita força, pois enquanto o homem muitas vezes fornece alívio dos sintomas, tanto da doença física quanto mental, no final o único remédio para o pecado é encontrado na cruz. Todas as outras formas de tratamento devem ser vistas sob esta luz. 

O Senhor, o Grande Médico

"Pois não temos um sumo sacerdote que não possa simpatizar com nossas enfermidades [ou fraquezas], mas tentado em todas as coisas da mesma forma, mas sem pecado. Aproximemo-nos, portanto, com ousadia ao trono da graça, para que possamos receber misericórdia, e encontrar graça para ajuda em tempo oportuno" (Hebreus 4:15-16, tradução livre da versão em inglês de J. N. Darby). 
"Seja qual for o estado em que te encontras, venha a Jesus, e descobrirás que Ele é sempre gracioso, que Ele sempre tem graça...
"Ele foi desprezado por isto -- fiel no amor, passando por todo a cena do homem, porque Ele foi a Testemunha fiel, para que a graça possa vir a mim onde estou, envergonhado à vista dos homens: lá Cristo vem buscar-me, determinado a ser a fiel Testemunha de Deus, que é rica em misericórdia. 
"É impossível estar em alguma condição na qual Cristo não possa vir ao auxílio. Ele mergulhou no próprio mar da miséria dos homens para te ajudar. É um conforto ter a simpatia do homem, mas ele muitas vezes não pode nos ajudar. O que não é termos a simpatia de Deus, o que realmente tem poder?"

domingo, 19 de novembro de 2017

Tratamento - Princípios Gerais

Seção 3 - Tratamento

Princípios Gerais

Todos sabemos que o tratamento de uma doença pode ser complicado, mesmo se estivermos considerando principalmente a doença física. Não é suficiente tratar apenas o corpo, pois sabemos que o espírito, alma e corpo interagem de maneiras bem reconhecidas, embora mal compreendidas. As Escrituras nos dizem que "um coração alegre promove a cura, mas um espírito quebrantado (abatido) seca até os ossos" (Provérbios 17:22, tradução de J.N.Darby). Do mesmo modo, lemos: "O espírito de um homem susterá sua enfermidade; mas um espírito quebrantado, quem pode suportar?" (Provérbios 18:14, tradução de J.N.Darby). Assim, a parte não-física e física influenciam uma à outra, seja para o bem ou mal. Este princípio é bem conhecido nos círculos médicos, e no mundo em geral. Mesmo em doenças simples e comuns como o resfriado, estudos apontam que pessoas felizes e bem ajustadas pegam menos resfriados, e de duração mais curta, do que aqueles que estão infelizes ou sob estresse.

O mesmo ocorre com a doença mental, pois vimos que, na maior parte dos casos, o espírito, a alma e o corpo estão envolvidos. Todos os variados fatores responsáveis devem ser considerados e identificados, e o tratamento não será efetivo sem isso. Muitas doenças mentais possuem algum componente físico, e assim é um erro enxergar todos os distúrbios mentais como problemas espirituais. Por outro lado, é um erro ainda maior enxergar todo o problema como físico, pois enquanto os medicamentos podem tratar o que é físico, eles não tem efeito moral, e jamais poderia alcançar a alma ou o espírito.

Um ponto muito importante deve ser feito aqui, a saber, que existe uma dimensão espiritual em todos os casos de doença mental. Há várias razões para isso. Em primeiro lugar, devemos reconhecer que Deus assim permite, assim como Ele permite as doenças físicas. A aceitação disso, e o reconhecimento da mão de Deus as permitindo, é o primeiro passo para lidar com o problema. Em segundo lugar, uma vez que o homem é um ser moral com uma responsabilidade perante Deus, existem questões morais e espirituais que afetam a doença mental. O espírito, alma e corpo interagem um com o outro, e quando o comportamento anormal ocorre, às vezes o comportamento pecaminoso também está envolvido (ou potencialmente envolvido). Finalmente, há a necessidade de reconhecer o problema da doença mental, e não negá-la. Assim como todo o pecado na carne, o homem tem uma tendência à excusar, negar, culpar aos outros, e talvez até mesmo culpar a Deus. Um indivíduo afligido pela doença mental pode ter a tendência de enxergar a si mesmo como normal, e os outros como anormais. Tal negação do problema resulta um uma vida muito infeliz, uma vez que nenhum tratamento pode resultar em qualquer efeito no longo prazo para essas pessoas. É claro, essas dimensões espirituais podem todas estar presentes também nas doenças físicas, mas tendemos a pensar que são frequentemente presentes, em um maior grau, na doença mental, e são, portanto, mais importantes neste caso.

Ao considerarmos o tratamento, nos referiremos com frequência às Escrituras. Enquanto os comentários feitos serão geralmente aplicáveis a todos que experienciam a doença mental, gostaríamos de deixar claro que iremos utilizar a Palavra de Deus livremente, como escritos para o benefício daqueles que conhecem o Senhor e que confiaram nEle como Salvador. Para aqueles que estão lendo isto que talvez não conheçam o Senhor Jesus como seu Salvador, nós ressaltamos que o único remédio para o pecado é encontrado no Senhor Jesus Cristo. Na cruz do Calvário Ele satisfez a Deus quanto a toda a questão do pecado, e agora lemos que "o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (1 João 1:7). Sobre esta base, lemos que Deus "manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam" (Atos 17:30, Almeida Revisada). Ele quer quer você conheça o Senhor Jesus como seu Salvador hoje mesmo, e que saiba que seus pecados estão perdoados!

sábado, 11 de novembro de 2017

Conclusões (da Seção 2)

À luz de tudo o que temos considerado, torna-se óbvio que a doença mental, seja leve ou seriamente incapacitante, é um assunto muito complicado. Há quase sempre múltiplas causas -- físicas, espirituais, circunstanciais, etc. É a presença dessas múltiplas causas juntamente com nosso entendimento limitado da doença mental que é, sem dúvida, responsável por muito do mal-entendido e pensamento desequilibrado sobre o assunto.

Há aqueles que reduziriam qualquer resposta mental ou emocional anormais a um problema espiritual, enquanto outros diriam que é tudo físico, relacionado ao mal funcionamento dos neurotransmissores e de problemas químicos no cérebro. Vimos que nenhuma dessas respostas está totalmente errada, mas que nenhuma também está totalmente certa. Alguns tentariam relacionar tudo a experiências que tivemos em algum momento anterior de nossas vidas, enquanto outros diriam que o pecado original é a causa de todos esses problemas. Novamente, ambos podem ser fatores causadores da doença mental, mas nenhuma explica o quadro todo. Em vez disso, em qualquer situação, múltiplos fatores provavelmente estão envolvidos e assim precisam ser abordados. Fatores genéticos, relacionadas ao ambiente e espirituais podem todos estar presentes, em maior ou menor grau. A avaliação dos diferentes fatores em um caso individual juntamente com a escolha de uma terapia adequada apresenta o maior desafio para aqueles que tratam a doença mental.

Para o crente, todo esse assunto deveria provocar humilhação, quando percebemos a complexidade do homem como o ser mais elevado da criação -- aquele que foi criado à imagem e semelhança de Deus! Certamente a semelhança foi perdida como resultado da queda do homem, mas a imagem permanece -- ele ainda é a cabeça da criação e assim representa Deus neste mundo. Deveríamos nos humilhar, também, quando consideramos que "por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte" (Romanos 5:12). Foi o pecado do homem que introduziu neste mundo não apenas distúrbios no corpo, como também na alma e no espírito, e todos estes estão envolvidos na doença mental. Que possamos sempre abordar o assunto com aquela santa reverência que percebe que "em parte, conhecemos" (1 Coríntios 13:9), seja nas coisas espirituais ou naturais. Vamos falar um pouco agora sobre o tratamento.

Ações Criminosas

Vimos como o pecado voluntário pode causar doença mental, e como o pecado que permitimos em nossa vida pode agravar uma tendência que já está presente em nosso ser como resultado do pecado. Se isso for levado além de um certo ponto, o indivíduo pode acabar se envolvendo com atividades criminosas. Este é um outro caso em que o pecado voluntário combina-se ao pecado como um resultado da queda do homem. Novamente, por ser um tipo especial de pecado voluntário, o deixaremos para maiores considerações em um apêndice.

Possessão Demoníaca

Esta causa de doença mental é muito importante, sendo mencionada um número de vezes nas Escrituras. Por ser um fator na doença mental que é frequentemente negligenciado e talvez nem mesmo reconhecido, é importante que o consideremos cuidadosamente. No entanto, por estar em uma classe por si só e por ser tão importante, consideraremos a possessão demoníaca como um assunto à parte mais tarde em um apêndice.

Circunstâncias Passadas

Além das circunstâncias atuais, devemos mencionar experiências que alguém pode ter tido anteriormente em sua vida. Trazemos esse assunto com cautela, não porque o fenômeno não existe, mas porque tem havido muita controvérsia e mal-entendido sobre esse aspecto do comportamento humano. É lamentável que Sigmund Freud tenha falado tanto sobre esse aspecto do comportamento humano, pois os crentes o têm recebido amplamente e a suas teorias, tendo sido ele um homem de visões ateístas e ideias anticristãs. No entanto, é verdade que experiências passadas moldam nosso pensamento e perspectiva, e experiências dolorosas podem levar-nos a desenvolver certas estratégias de enfrentamento ou mecanismos de defesa. Desde que essas estratégias de enfrentamento sejam boas (tais como buscar a ajuda de alguém ou evitar a causa do problema), elas tornam possível que reduzamos o impacto de eventos estressantes e mantenhamos um comportamento normal. No entanto, se elas se degeneram em mecanismos de defesa que são destrutivos, elas podem muito bem provocar distúrbios mentais em vez de evitá-los. Aqueles que reprimem uma memória dolorosa ou negam que algo desagradável realmente aconteceu podem experimentar algum tipo de alívio no curto prazo, mas eventualmente descobrirão que devem encarar a realidade. Podemos deixar uma lasca em nosso dedo para evitar a dor associada a removê-la, mas a infecção e a inflamação resultantes criarão um problema muito maior do que se antes tivesse passado pelo transtorno de removê-la. Assim, dores e experiências ruins que ocorreram no passado podem lançar uma sombra sobre nossas vidas, fazendo-nos pensar e agir de maneiras que são anormais.

sábado, 4 de novembro de 2017

O Senhor Jesus e a Depressão

É nesta área que devemos tecer alguns comentários sobre o Senhor Jesus Cristo. Ele como um Homem sem pecado veio a um mundo de pecado, e assim experimentou todos os terríveis efeitos do pecado vindos de fora de si mesmo. Ele passou por todo tipo de sofrimento que um homem sem pecado poderia passar. Lemos em Hebreus 4:15: "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado". Tudo isso foi elevado a uma altura sem paralelos quando Ele foi até a cruz, pois ali Ele experimentou não apenas tudo o que o coração perverso do homem podia inventar, como também a ira de um Deus Santo contra o pecado. Como um homem sem pecado, Ele sentiu isso tudo, e sentiu-o perfeitamente. Ao contemplar isso tudo no jardim de Getsêmani, Sua alma santa ficou oprimida pelo que lhe aguardava. O evangelho de Mateus relata a cena como segue:
"Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar. E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e ficar profundamente deprimido" (Mateus 26:36,37, versão de J.N.Darby).
Aqui encontramos a perfeição sem pecado na presença do mal, e mal tão grande como nenhum outro jamais pôde experimentar, mesmo encontrando-se naquela perfeição que tudo aceitou do Pai. Como vimos, o mal tende a deprimir a alma, e nosso Senhor sentiu o mal pessoalmente, mas perfeitamente, por causa de Sua santidade. Como resultado, uma vez que Satanás não tinha nada com Ele, a consequência de sua depressão apenas resultou em comunhão com Deus. Alguém observou com precisão, no que diz respeito à obra de Cristo na cruz: "Desprezo, inimizade, perfeita depressão (Ele foi crucificado em fraqueza, veja versículo 14 do Salmo 22) e a face de Jeová dEle escondida, essas coisas marcaram Seu verdadeiro estado lá, mas [Ele foi] fiel, dizendo: 'Tu és santo'." (grifo do autor)

Teremos mais a dizer sobre esse assunto quando falarmos sobre o tratamento da doença mental, mas é humilhante e ao mesmo tempo encorajador ver nosso bendito Mestre experimentando todos os efeitos do pecado vindo de fora, e sentindo o que pode ser chamado de depressão. No entanto, andamos em terreno santo aqui, e é completamente claro que, enquanto nosso bendito Senhor tinha uma natureza humana, Ele não possuía a natureza caída. Como um homem perfeito, Ele pôde sentir as coisas como qualquer outro homem, e por ser sem pecado, Ele sentiu quão terrível é o pecado de um modo que ninguém mais podia. Quando isso tudo foi levado sobre Ele no jardim de Getsêmani, isso realmente O deprimiu, e resultou em oração ao Seu Pai.

sábado, 28 de outubro de 2017

As Circunstâncias e o Pecado Agindo sobre Nós

Já percebemos que as circunstâncias e sua influência em nosso estado mental são mencionados mais do que uma vez na Palavra de Deus. O Senhor predisse que, como resultado da desobediência, Israel sofreria muito em Sua mão. Um dos sofrimentos que eles experimentariam é mencionado em Deuteronômio 28:34, a saber, "E enlouquecerás com o que vires com os teus olhos". A palavra aqui tem o pensamento de delirar através da insanidade, neste caso como resultado de verem os terríveis juízos que Deus traria sobre Seu povo. Do mesmo modo, lemos em Eclesiastes 7:7 que "a opressão faria endoidecer até ao sábio". Muitos indivíduos conseguem levar a vida razoavelmente bem se as coisas correrem de forma suave e pacífica. No entanto, quando problemas e dificuldades surgem, muitas vezes eles se veem inclinados à beira de padrões de pensamento e comportamentos anormais. Tais coisas como dor física crônica, falecimento, perda de emprego, crises familiares, e outras circunstâncias estressantes, podem todas afetar nosso estado mental. A esta lista devemos acrescentar também causas menos comuns como a guerra, tortura, e a contínua falta de sono adequado (ao mencionarmos a falta de sono, nos referimos à privação de sono como resultado de circunstâncias estressantes). Tudo isso são efeitos externos -- vindos de fora de nós mesmos -- do pecado: o pecado que distorceu todo o padrão de vida neste mundo.

Se alguém sofre de dor física severa e crônica por mais de um mês, ele começará, humanamente falando, a desenvolver depressão. A perda da fonte de renda, ou mais sério ainda, a morte de uma pessoa amada, também pode precipitar um surto de depressão. Aqueles com distúrbios mentais mais sérios como a esquizofrenia podem, às vezes, conseguir seguir vidas relativamente normais se a maior parte do estresse for removido, mas sua doença é grandemente agravada pelas circunstâncias. Indivíduos sujeitos aos horrores da guerra e/ou à tortura frequentemente sofrem tais coisas como trauma pós-guerra e até mesmo mudanças de personalidade no longo prazo. Tudo isso é às vezes chamado de distúrbio de estresse pós-traumático. Quanto menos resiliente e quanto maior a fragilidade emocional, mais facilmente as circunstâncias adversas podem levar a pensamentos e comportamentos anormais óbvios.

Tudo isso aumentou muito em nosso mundo moderno. Na época em que este livro foi escrito, coisas como a depressão e casos sérios de ansiedade tinham aumentado dramaticamente no Canadá durante os últimos vinte anos. Distúrbios com um componente psicológico, tais como a fibromialgia e síndrome de fadiga crônica, têm se tornado cada vez mais comuns. Muitas vezes o estresse na vida de uma pessoa leva ao sono perturbado e finalmente à privação crônica do sono. Isto resulta em fadiga crônica, ansiedade aumentada, dor física, e, finalmente, depressão. Toda a síndrome torna-se um círculo vicioso, uma vez que a depressão e a ansiedade levam a mais estresse. Além disso, devemos perceber que o estresse pode ser devido à nossa própria vontade, onde nosso orgulho nos empurra para fazermos as coisas do nosso próprio jeito. A frustração que ocorre quando nossa vontade é frustrada pode produzir estresse e, finalmente, todos os problemas que temos mencionado. Alguém sabiamente observou que "as circunstâncias não nos dariam problemas se elas não encontrassem algo em nós que é contrário a Deus; elas apenas sussurrariam levemente como a brisa"*. Aqui novamente estamos em uma área onde diferentes causas de doença mental se sobrepõem, tornando o assunto bastante complexo.

{* Darby, J. N., God’s Rest, the Saint’s Rest. (The Collected Writings of J. N. Darby, Vol. 16, Stow Hill Ed.), pg. 117 }

sábado, 14 de outubro de 2017

Outros Vícios

Está além do escopo deste livro tratarmos em detalhes sobre cada tipo de vício, mas é interessante fazermos alguns comentários antes de prosseguirmos. Primeiramente, devemos nos lembrar que os vícios podem incluir muitas coisas em nossas vidas. Paulo diz aos coríntios: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma" (1 Coríntios 6:12). As Escrituras mencionam tais coisas como imoralidade sexual, o abuso do álcool, e a glutonaria, mas podemos nos deixar dominar por muitas outras coisas -- esportes, exercício físico, jogos de azar, cafeína -- e até mesmo coisas como a tomada de riscos. Devemos reconhecer que os desejos indisciplinados que dirigem os vícios são encontrados em cada coração humano. O Senhor Jesus disse: "Todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (João 8:34). 

Sem dúvida, a tendência a um vício em particular é influenciada tanto pela genética quanto por várias influências em nossa educação, mas então nossa vontade entra em cena, pois gostamos de pecar. Então, quando nos entregamos repetidamente a um comportamento em particular, nos tornamos escravizados de modo que isso nos controla. Assim temos atos propositais de pecado combinados com a natureza controladora dos vícios. De fato, todo pecado age assim, mas os vícios tornam isso mais aparente. Se negamos a escravidão dos vícios, então precisamos assumir que o indivíduo tem poder para mudar a si mesmo. Isto não é verdade, pois a vontade do homem não tem poder algum contra o pecado sem o poder da graça de Deus. Por outro lado, se negamos o pecado voluntário envolvido nos vícios, então acabamos nos permitindo a colocar a culpa fora de nós mesmos, assim como fez o político mencionado anteriormente, que dava a desculpa de que seu tráfico de drogas era pelo fato de que seu cérebro estava bagunçado. A realidade é que uma tendência em nossos corações -- "o pecado que tão de perto nos rodeia" (Hebreus 12:1) -- encontra sua expressão nas escolhas pecaminosas e acaba num comportamento controlador que lembra uma doença. "Havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte" (Tiago 1:15).

Consideremos agora o terceiro aspecto do pecado e suas consequências: as circunstâncias e o pecado agindo em nós do lado de fora.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Vícios -- Álcool e Abuso de Substâncias

Conectado ao pecado que permitimos em nossas vidas há também a questão do álcool e outros abusos de substâncias. Já o mencionamos em conexão com causas físicas da doença mental, pois o álcool e outras drogas tem um efeito físico no cérebro. Existem substâncias químicas (drogas) que, tomadas adequadamente e sob supervisão médica, afetam o cérebro de modo benéfico. Outras (tais como a cocaína ou a heroína) fornecem uma experiência prazerosa temporária, mas são acompanhadas de sérios efeitos prejudiciais.

A ingestão de tais substâncias é quase sempre feita com o pleno conhecimento de que haverá tanto consequências prazerosas quanto dolorosas. Como em outras causas de distúrbios mentais, reconhecemos que há aqueles que, por causa de sua composição mental e física, são mais facilmente propensos a tornarem-se viciados em drogas, especialmente o álcool. Uma vez que começam a abusar da substância envolvida, o indivíduo pode tornar-se viciado, talvez tanto fisicamente quanto psicologicamente, e pode encontrar dificuldade em parar com o hábito. Sintomas de doença mental são muitas vezes produzidas tanto no curto quanto no longo prazo. Todos já conhecemos o triste comportamento de alguém inebriado pelo excesso de álcool, mas o abuso crônico pode resultar em doença mental devido a dano cerebral permanente (psicose de Korsakoff).  As Escrituras nos alertam sobre tudo isso, e Salomão nos diz nos Provérbios:
"Para quem são os ais? Para quem os pesares? Para quem as pelejas? Para quem as queixas? Para quem as feridas sem causa? E para quem os olhos vermelhos?Para os que se demoram perto do vinho...  
"Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. 
"No fim, picará como a cobra, e como o basilisco morderá. 
"Os teus olhos olharão para as mulheres estranhas, e o teu coração falará perversidades." (Provérbios 23:29-33)

A Responsabilidade Moral e a Doença Mental

Devemos nos lembrar de um princípio muito importante, a saber, que Deus sempre nos considera responsáveis pelos motivos de nosso comportamento. Uma criança pequena pode ser mais suscetível a se comportar mal porque não tirou uma boa soneca à tarde, mas pais sábios não aceitarão totalmente tal desculpa para o mau comportamento, mesmo que deem um crédito à falta de uma soneca. Do mesmo modo nós também não podemos jogar a culpa de nosso mau comportamento totalmente sobre uma doença física, embora esta possa tornar mais difícil para nós fazer o que é correto. As Escrituras nos dizem que "o Espírito ajuda as nossas fraquezas" (Romanos 8:26), e isso inclui tais coisas como o transtorno bipolar ou problemas emocionais decorrentes de lesões na cabeça. Além disso, uma doença física, independente de afetar o cérebro ou alguma outra parte do corpo, não pode nos prevenir de seguirmos o Senhor e O buscarmos por ajuda nessa situação. Paulo podia dizer aos coríntios: "Ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia" (2 Coríntios 4:16). Da mesma forma, o Próprio Senhor podia dizer a Paulo: "A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Coríntios 12:9). Enquanto certamente não é fácil lidar com as capacidades naturais distorcidas, reduzidas ou até mesmo ausentes, ainda assim é uma oportunidade para nós de reconhecermos nossa fraqueza e buscarmos o Senhor para nos dar força e ajuda. Muitos queridos crentes descobriram a verdade disso e tornaram-se vencedores e testemunhas brilhantes para Cristo, mesmo com tais deficiências.

Ao fazermos essas declarações devemos, é claro, distinguir entre o comportamento anormal e o pecaminoso. Como resultado da deficiência mental ou doença mental, um indivíduo pode exibir comportamento anormal que é característico daquela doença em particular. Por exemplo, as fases maníaco-depressivas do transtorno bipolar estão muito além do controle do indivíduo, e causarão certos tipos de comportamento que ele não consegue melhorar. A falta de memória e a incapacidade de raciocinar que acompanham o mal de Alzheimer são características dessa doença, e não há o que possa ser feito. No entanto, o comportamento pecaminoso (aquele que é moralmente errado) é algo que temos controle sobre, pelo menos quanto ao motivo, embora as distorções de nosso espírito, alma e corpo por causa da queda do homem possam tornar mais difícil para nós controlar tais tendências. Sem dúvida há, às vezes, uma linha tênue entre o que é anormal por causa da doença mental, e o que é pecado por causa da nossa vontade e motivos errados que estão envolvidos. O assunto do pecado voluntário e de nossa responsabilidade perante Deus traz-nos à questão dos vícios, os quais trataremos melhor a seguir.

O Pecado Que Permitimos em Nossa Vida -- Pecado Voluntário

Já vimos que todos nascemos membros de uma raça caída, e, como tais, somos sujeitos aos efeitos do pecado em nosso espírito, alma e corpo. Além disso, uma vez que o pecado entrou neste mundo temos também uma natureza pecaminosa que as Escrituras chamam de "a carne". As Escrituras usam essa expressão para descrever o "eu" pecaminoso do homem que não pode agradar a Deus (Isto também é explicado em mais detalhes na seção sobre "A Natureza do Homem"*). No Novo Testamento, especialmente nas epístolas de Paulo, essa expressão é usada para se referir à condição moral do homem sem Deus e aos princípios de vontade própria que governam as ações do homem natural. Quando permitimos que nossa natureza pecaminosa, "a carne", aja, ela pode certamente contribuir, e às vezes ser o fator principal, da doença mental. 

{* N. do T.: Não traduzida ainda, mas pode ser lida no texto original, das páginas 78 a 98: https://drive.google.com/file/d/0B-YRE-dLph2XX1IyUlhpYU43V0U/view?usp=sharing}

Quando permitimos o pecado em nossa vida, é algo imediatamente mais sério, pois traz em cena nossa responsabilidade perante Deus. Isto é visto claramente no caso de Nabucodonosor em Daniel 4, cujo estado mental foi permitido por Deus por causa de seu orgulho. Tal pecado é obviamente diferente da tendência à doença mental que é herdada, pois envolve o que as Escrituras chamam de "o pecado que tão de perto nos rodeia" (Hebreus 12:1). Embora não exista dúvida de que a tendência a esses pecados que nos rodeiam é muitas vezes transmitida de família, ainda assim devemos traçar uma distinção entre o que é o resultado do pecado e o que é o próprio pecado. Pensamentos pecaminosos e comportamento ruim podem precipitar a doença mental, e aqui temos, definitivamente, um problema espiritual. Há, no entanto, encorajamento para lidar com isso, pois como crentes podemos conhecer a libertação do pecado pois o Senhor Jesus morreu pelos pecados. Falaremos mais sobre esse assunto quando discutirmos o tratamento.

Por exemplo, raiva suprimida que é mantida em oculto no coração pode trazer a depressão, e a depressão não melhorará até que isso seja reconhecido e tratado. Muitas histórias sobre isso podem ser contadas. Um homem entrou no quarto de um amigo que havia caído várias vezes em depressão, de modo a precisar de hospitalização, e sem rodeios perguntou: "OK, do que você está com raiva desta vez?". E funcionou. O paciente desabafou e começou a se recuperar. Outro exemplo é dado por E. C. Hadley em seu livro "You Can Have a Happy Life" (em português, "Você Pode Ter uma Vida Feliz", não disponível em língua portuguesa). Ele comenta:
"Podemos não estar plenamente conscientes do fato de que o pecado e a vontade própria são a causa de nossos temores ansiosos. É tão fácil enganarmo-nos a nós mesmos e acreditarmos que alguém ou alguma coisa além de nós mesmos é o responsável. No entanto, nunca nos livraremos de nossos medos ou teremos qualquer paz real até admitirmos a verdade e acertarmos as contas com Deus. 
"Uma jovem, criada em um lar cristão, começou a fazer coisas que sua consciência condenava. Não querendo admiti-las e confessá-las a Deus, ela começou a convencer-se a si mesma primeiramente de que Deus não se importava, e depois de que não havia Deus. Por muitos anos ela afirmava ser ateia. Mas o pecado em sua vida gradualmente se desenvolveu em ansiedade e medo. 
"Ela finalmente sentiu como se estivesse perdendo a cabeça e acabou em um hospital psiquiátrico. Muitos remédios foram tentados, mas nenhum alívio veio até que ela encarou o fato de que ela estava tentando tirar Deus de sua vida. Uma vez que ela confessou seus pecados e rendeu-se a Deus, ela foi capaz de sair do hospital livre de suas ansiedades e medos, e com sua consciência limpa."
Às vezes tentamos culpar o mau comportamento a alguma causa física tal como uma anormalidade no cérebro. Um caso assim envolveu um proeminente político que estava atendendo a uma conferência de imprensa. Segue o relato do que aconteceu, escrito por alguém que o ouviu:
"Esse político que possuía uma campanha antidrogas foi um homem evasivo e que nunca assumiu suas culpas e responsabilidades através de seus dois mandatos. Embora ele tivesse enfrentado constantes encargos legais, nenhum deles foi bem sucedido. Desfalque, venda de favores políticos, uso de drogas -- ele sempre era acusado mas nunca declarado culpado.  Um dia ele foi flagrado no ato da compra e uso de drogas ilegais. Estava tudo gravado em uma fita. Como ele escaparia dessa vez? 
"Enquanto se movia em direção ao pódio, um repórter gritou: 'Por que você fez isso? Por que você mentiu por todos esses anos?'
Sua resposta foi imediatada: 'Eu não fiz isso', ele respondeu. 'Meu cérebro estava bagunçado. Foi meu cérebro que fez isso. Minha doença fez isso!'. Não havia qualquer sinal de remorso -- apenas indignação de que alguém tivesse feito tal pergunta"* 
{* Welch, Edward T., Blame It on the Brain. (Phillipsburg, NJ, P & R Publishing Co., 1998), pg. 13 }

Esse homem certamente não estava mentalmente doente no verdadeiro sentido da palavra, mas estava de fato inventando uma desculpa para seu comportamento pecaminoso dizendo que ele não era responsável pois supostamente seu cérebro estava bagunçado!

Todos estamos familiarizados com o bem conhecido caso de Judas Iscariotes, um discípulo do Senhor Jesus que O traiu por dinheiro. Quando o Senhor Jesus não usou Seu poder divino para escapar, mas sim permitiu-Se ser preso, registra-se que Judas devolveu o dinheiro e então cometeu suicídio. Sem dúvida ele lamentava o que tinha feito, mas sua tristeza era mais pela consequência do seu pecado do que pelo próprio pecado. As Escrituras nos dizem que "a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte" (2 Coríntios 7:10). O pobre Judas sentiu tanto remorso que ele "retirou-se e foi-se enforcar" (Mateus 27:5). Tal foi o terrível resultado do pecado que ele permitiu em sua vida! 

Até agora, mencionamos alguns exemplos de doença mental onde o pecado voluntário foi a causa primária do problema. No entanto, o pecado voluntário pode ser um sério fator na doença mental que tem sua origem primária no pecado como efeito da queda do homem. A pré-disposição à doença mental pode ser herdada, mas as manifestações externas de tais tendências podem ser o resultado do pecado voluntário na vida de alguém. Uma propensão à doença mental que, de outra forma, permaneceria latente (dormente) pode ser despertada pelo pecado voluntário. Episódios de doença mental são, às vezes, uma reação específica à ansiedade severa proveniente da incapacidade de lidar com as exigências da vida adulta. Tal dificuldade pode ter suas raízes em uma educação permissiva, onde houve uma falta da disciplina necessária para formar adequadamente o caráter do indivíduo. Um médico (crente) que tratou um grande número de estudantes universitários fez a seguinte observação: 
"Crianças que nunca foram condicionadas por algumas frustrações durante os primeiro quinze anos de vida não se tornam muito preparadas para lidar com as exigências da vida adulta sem experimentar um estresse incomum."*
{* McMillen, S. I., M.D., None of These Diseases. (Fleming H. Revell, Westwood, NJ, 1958), pg. 124}

O Dr. Douglas Kelly, psiquiatra chefe dos julgamentos de Nuremberg, afirmou que criamos "uma geração de crianças que não foram ensinadas à disciplina necessária para se dar bem neste mundo... Temos sido entusiásticos demais em nossa recusa em ensinar o controle para que não traumatizemos as crianças."* Se ele tivesse feito essa afirmação a mais de quinze anos atrás, o que ele diria hoje? As crianças que foram disciplinadas mentalmente e fisicamente para trabalhar, para aceitar as restrições em seus comportamentos, e para direcionar suas emoções e energias para fora em vez de para dentro, não desenvolverão tão facilmente a doença mental, mesmo que tenham a predisposição a ela por hereditariedade. Falaremos mais sobre o assunto quando considerarmos as circunstâncias e o efeito do pecado vindo de fora. 

{* Psychiatry at Work, (Time Magazine, July 18, 1955), pg. 55. }

Em nossa discussão sobre o escopo da doença mental mencionamos os distúrbios de personalidade, e como o pecado algumas vezes distorce a "composição" do indivíduo de modo que seus padrões de comportamento se desviam marcadamente dos demais. É triste dizer que esse efeito do pecado na personalidade de uma pessoa às vezes conduz ao pecado voluntário, no qual o indivíduo fica irritado por não ser aceito como uma pessoa normal. Em vez de admitir o problema e procurar ajuda para lidar com ele, a pessoa ataca os outros. Ela pode negar que tem um problema, escolhendo, em vez disso, considerar-se normal e os outros como anormais. Tais pessoas estão condenadas a levar uma vida muito infeliz até que encarem o problema, o admitam, e busquem a ajuda do Senhor. Em outros casos o indivíduo é geneticamente predisposto a sua estrutura de personalidade ruim, mas então sua vontade toma essa tendência e permite que aja em pecado aberto. Isto é particularmente verdadeiro no sério distúrbio às vezes chamado de personalidade anti-social ou "psicopática". Deixados por si mesmos, tais indivíduos muitas vezes acabam vivendo uma vida criminosa, a menos que a graça de Deus os alcance e os salve. 

Vícios e dependências químicas também fazem parte desse aspecto de doença mental e estão conectados a uma tendência herdada que a pessoa então permite aflorar até ao ponto em que se torna pecado. Uma vez que este é um assunto muito amplo, vamos reservá-lo para uma discussão mais aprofundada mais adiante neste livro.

A questão do pecado voluntário também nos traz a uma discussão sobre nossa responsabilidade moral na doença mental, o que veremos no próximo capítulo.

sábado, 26 de agosto de 2017

O Pecado como Resultado da Queda do Homem -- Alma e Espírito

Alma e Espírito


Até agora, consideramos apenas como o pecado afetou o lado físico do homem, e como um cérebro doente ou danificado pode não responder da maneira correta. Mas será que percebemos que o pecado atingiu cada parte do nosso ser, moral e espiritual, assim como o físico? Nós prontamente concordaríamos que a tendência a mentir, roubar ou matar é evidência definitiva do pecado que está em nós por causa da queda do homem. Devemos reconhecer, no entanto, que a alma e o espírito são afetados pela queda do homem, não apenas em nossa tendência de cometer pecado, mas também ao manifestarmos anormalidades que o pecado causou. Somos todos nascidos neste mundo como pecadores perdidos, e enquanto a essência do mal não está nem no próprio corpo nem na natureza humana e suas faculdades, mesmo assim tudo isso é prejudicado por ela. Davi podia dizer no Salmo 51:5: "Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe". Paulo diz em Romanos 7:18: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum". O termo "a carne", como usado nas Escrituras, às vezes refere-se ao ser natural completo do homem -- corpo, alma e espírito.* (Isto é desenvolvido mais plenamente na seção sobre "A Natureza do Homem".) As Escrituras também nos dizem que somos naturalmente "filhos da desobediência; entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos" (Efésios 2:2,3). Eu sugeriria que tudo do ser humano está incluído nesses versículos. Deste modo, o corpo (incluindo o cérebro) sente o efeito do pecado em seu funcionamento desordenado e em sua deterioração, e a alma e o espírito, com todas as nossas faculdades, foram afetados pelo pecado.

{* Do mesmo modo, lemos do Senhor Jesus que Ele "padeceu por nós na carne" (1 Pedro 4:1), que Ele "levou ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pedro 2:24), e que "a sua alma se pôs por expiação do pecado" (Isaías 53:10). Assim como todo o nosso ser esteve envolvido em pecado, assim o Senhor Jesus sofreu em todo o Seu ser pelo pecado. }

Em seu livreto "Auto-Estima", o autor afirma: 

"Muitos de vocês estão cientes de que há diferentes tipos de personalidade, e que de uma maneira geral podemos todos nos encaixar em um (ou em uma combinação) desses diferentes tipos. Por exemplo, algumas pessoas são muito trabalhadoras, bem disciplinadas e bem organizadas. Essas são pessoas que podem gerenciar qualquer coisa, e que geralmente realizam muitas coisas neste mundo. Sem dúvida essa capacidade foi-lhes dada por Deus, e é justo dizer que eles teriam essa capacidade mesmo se o homem não tivesse caído. Mas essas pessoas geralmente possuem um lado negativo, pois são muitas vezes arrogantes e intolerantes para com os outros. Elas podem ser sarcásticas, e muitas vezes não trabalham bem com os outros. Eles podem subir ao topo no mundo dos negócios e estarem em posições gerenciais, porém, às vezes, não são apreciados por seus subordinados.

"Por outro lado, há aqueles que são bem mais abertos e amigáveis, e que são o que chamaríamos de 'pessoas do povo'. Eles são intuitivos, podem perceber os sentimentos das outras pessoas e reagem adequadamente. Eles geralmente possuem muitos amigos e são bastante apreciados pelos outros. Novamente, este é um traço dado por Deus, e seria parte deles antes da queda. Do lado negativo, essas pessoas muitas vezes têm um problema com autodisciplina e sentem dificuldade de disciplinar os outros. Elas acham mais difícil comparecer a um compromisso pontualmente, gerenciar seus assuntos de maneira ordenada e tomar responsabilidades seriamente.

"O que vemos nas personalidades dos homens, incluindo nós mesmos, é parte o que Deus em Sua sabedoria criou, e parte o que o pecado causou. Vemos beleza na natureza e reconhecemos a obra de Deus, mas então vemos a ruína que o pecado trouxe."

Algumas das chamadas doenças mentais ou distúrbios comportamentais são, de fato, uma expressão exagerada de respostas mentais e emocionais normais, mas sem a integração adequada e o equilíbrio com outros traços que permitiriam que o indivíduo agisse normalmente. Assim como cada tipo de personalidade tem um lado ruim que é, sem dúvida, o resultado do pecado, assim também o efeito da queda da alma e do espírito humano contribui para um comportamento anormal que pode resultar em doença mental. O efeito dos desequilíbrios em nossa composição resulta no que é convencionalmente chamado de personalidade -- a combinação de qualidades que tornam um indivíduo único. No entanto, se esses desequilíbrios forem além de um certo ponto, o exagero de uma ou mais tendências resulta em comportamentos anormais que podem ser consideradas doenças mentais. Por exemplo, a imaginação é uma parte importante, útil e interessante da personalidade humana, mas uma imaginação hiperativa que não distingue entre fantasia e realidade pode resultar em ilusões e até mesmo em alucinações.

Consideremos uma doença mental bem conhecida tal como o transtorno maníaco-depressivo (ou bipolar). Seria meramente uma condição física, ou será que há mais coisas envolvidas? Seria causado simplesmente por um cérebro que está condicionado a ocasionalmente decolar em um voo frenético, seguido por uma falha correspondente na depressão? Sem dúvida, parte disso é causado por uma distorção na função cerebral, e esse é o motivo pelo qual as drogas psicotrópicas podem aliviar os sintomas. No entanto, eu acredito que as Escrituras nos levariam a crer que o pecado que afeta a alma, o espírito e o "eu" consciente também está envolvido. Como já observamos, a alma e o espírito interagem com o corpo (o cérebro) de um modo que apenas Deus pode compreender totalmente, e uma vez que o pecado permeou cada parte do ser humano, o efeito disso é sentido no corpo, alma e espírito.

Muitos crentes já sofreram de distúrbios mentais e continuam a sofrer. Em alguns casos isso se deve muito a fatores que vão além do controle deles, como no caso de William Cowper, o famoso escritor de hinos que viveu no século XVIII. Quando ele se sentia bem ele conseguia escrever lindos hinos tais como “Ere God had built the mountains” e "Misterioso é Nosso Deus" (do inglês: “God moves in a mysterious way”), e até mesmo poemas mais leves como "The Ride of John Gilpin". Mas quando a depressão o tomava ele era assombrado pela escuridão do desespero, e várias vezes tentou o suicídio. Toda a sua vida ele esteve sujeito aos "altos e baixos" de sua doença, embora ele visse claramente a plenitude da obra de Cristo para sua salvação.

Eu conheci mais de um crente sincero que lutava com a esquizofrenia, com suas ilusões e alucinações. Outros têm que lidar com distúrbios de ansiedade, estando sujeitos a tais coisas como ataques de pânico e fobias, e com a angústia mental e física decorrentes. Tendo conhecido alguns desses indivíduos por mais de 25 anos, estou convencido de que os problemas não são nem puramente físicos nem puramente no campo da alma e espírito. Em vez disso, devemos entender que, assim como o corpo está sujeito a distúrbios e doenças através do pecado, assim a alma e o espírito também são afetados por isso. Além de tudo isso, o pecado também afetou o "eu" consciente -- a essência do próprio indivíduo que finalmente controla o espírito, alma e corpo. Embora isso possa ser às vezes um problema espiritual, e possa sempre ter uma dimensão espiritual, a própria tendência é o resultado do pecado distorcendo a alma e espírito assim como o corpo. Muitas vezes, o pecado distorce tanto o físico quanto o não-físico ao mesmo tempo, resultando em uma origem complexa para uma doença mental em particular. Isto nos traz a uma consideração de um segundo aspecto do pecado e suas consequências, a saber, o pecado que permitimos em nossas vidas.

domingo, 20 de agosto de 2017

O Pecado como Resultado da Queda do Homem -- Os Efeitos Físicos

Os Efeitos Físicos

 

Primeiramente, sabemos que nossos corpos são afetados pelo pecado, o pecado que foi introduzido no mundo no Jardim do Éden. Deus tinha dito a Adão: "Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás." (Gênesis 2:17). As palavras "certamente morrerás" no original hebraico podem ser lidas como "morrendo, morrerás". Ao longo da história da humanidade o homem aprendeu de forma brutal a verdade dessa afirmação à medida que experimentou os distúrbios e deterioração gradual de seu corpo. O cérebro é parte do corpo e assim foi afetado por tudo isso. Uma vez que a alma e o espírito (e finalmente o "eu" consciente) devem se expressar por meio do cérebro, eles podem se encontrar incapazes de fazê-lo adequadamente por causa do funcionamento desordenado do cérebro. A organização física imperfeita do homem desde a queda tornou a mente (usada no sentido geral), através de sua conexão com o corpo (neste caso, o cérebro), sujeita a falsas percepções e expressões anormais.

Tais coisas como o mal de Alzheimer, de Parkinson, tumores cerebrais, lesões na cabeça e infecções cerebrais podem causar distúrbios comportamentais. A falta de sono adequado pode também ser incluída aqui. Podemos colocar o álcool e outros abusos de substâncias nessa categoria, pois afetam o cérebro de forma física. Aqui já estamos lidando com uma combinação de causas, pois o álcool e o abuso de substâncias envolve pecado voluntário, enquanto problemas na cabeça e falta de sono envolvem circunstâncias adversas e o efeito do pecado vindo de fora.

A maioria de nós já teve contato com alguém que desenvolveu mal de Alzheimer, e como resultado não pensa nem age de modo normal. O indivíduo geralmente tem concentração fraca, memória ruim para eventos recentes, dificuldade de planejamento e organização de sua vida, e habilidades de raciocínio prejudicadas. Mais sérios ainda são os problemas emocionais e psicológicos resultantes, tais como mudanças de personalidade, comportamento inadequado em situações sociais, agitação, irritabilidade, e até mesmo paranoia (uma suspeita irracional ou falta de confiança nas outras pessoas).

Em problemas sérios de cabeça ou após um acidente vascular a capacidade do indivíduo de funcionar intelectualmente é comumente danificada, pois geralmente há outras mudanças tais como um aumento de ansiedade, labilidade emocional* e até mesmo agressão. Em alguns casos há um exagero de certos traços (tais como teimosia ou impulsividade) que o indivíduo pode ter tido antes do acidente, e uma falta de controle sobre tendências que podem já ter estado presentes.

Além dessas causas físicas um tanto óbvias da doença mental, sabemos que o cérebro está envolvido em distúrbios mentais tais como a depressão e a esquizofrenia. Não é nosso propósito tomarmos muito tempo sobre o que a ciência médica pode ter descoberto nesse domínio, mas é suficiente dizer que a pesquisa científica tem sido capaz de demonstrar um componente biológico em alguns distúrbios mentais. Por exemplo, várias substâncias químicas estão envolvidas na ação adequada dos neurotransmissores no cérebro, e quando essas não estão presentes na quantidade correta (seja um excesso ou um déficit), sintomas de doença mental podem ocorrer. Isto é certamente um fator importante que contribui em algumas formas de doença mental, e predispõe o indivíduo a um distúrbio particular. No entanto, é um erro categorizar alguém tendo uma doença mental como simplesmente tendo um "desequilíbrio químico". O assunto é muito mais complicado do que isso, assumindo uma complexidade na qual múltiplos genes atuam em conjunto com fatores não genéticos para produzir um risco de distúrbio mental.

{* Labilidade emocional: Psicopatologia. Ausência de estabilidade emocional; tendência para alternar emoções que oscilam entre estados de alegria e de melancolia ou tristeza.

Deixaremos o assunto do álcool e do abuso de substâncias por enquanto, pois estes se enquadram melhor na categoria de um problema espiritual em vez de um ocorrido naturalmente. Mas os outros que mencionamos são coisas que ocorrem porque nascemos em uma criação pecaminosa. Embora os crentes tenham tido seus pecados perdoados, ainda são parte da criação que "geme e está juntamente com dores de parto até agora" (Romanos 8:22). O próximo versículo nos diz que "nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo" (Romanos 8:23). Apenas quando o crente tiver seu corpo glorificado ele funcionará do modo que Deus pretendia. Mas, novamente, o problema da doença mental é mais complicado do que simplesmente um distúrbio do cérebro.

sábado, 19 de agosto de 2017

A Natureza da Doença Mental

Como então a doença mental se desenvolve? Será algo físico, causado por algum desequilíbrio químico ou outras mudanças no cérebro que não permitem que a alma e o espírito se expressem adequadamente? Ou trata-se de algo pertencente principalmente ao domínio metafísico -- a alma e o espírito? Seria algumas vezes a combinação de ambos? Ou será que a origem vai ainda além disso, e envolve o "eu" consciente que controla o espírito, a alma e o corpo? Seria a origem sempre a mesma, ou diferentes formas de doença mental possuem diferentes causas? Ao buscarmos responder tais questões a partir de um ponto de vista bíblico, devemos começar com a raiz do problema -- o pecado. Todo distúrbio e confusão neste mundo decorre dessa terrível coisa que foi introduzida no mundo no Jardim do Éden. Ao considerarmos o efeito do pecado e suas consequências neste mundo, devemos abordar a questão de pelo menos três formas. Primeiramente, devemos considerar o pecado em cada um de nós como criaturas adâmicas [provenientes de Adão], e que, portanto, sentimos os efeitos do pecado em nosso ser porque nascemos de uma raça caída. Em segundo lugar, devemos considerar o pecado que voluntariamente permitimos em nossas vidas e que também podem causar efeitos em nossas vidas. Finalmente, devemos considerar o pecado como estando no mundo e assim afetando cada um de nós do lado de fora, como em circunstâncias adversas ou em algo que pode ser feito contra nós.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

A Natureza do Homem

(Ao considerar a doença mental, é útil ter um entendimento do homem e sua natureza, como nos é dado na Palavra de Deus. No entanto, uma vez que o homem é um ser complexo, alguns leitores podem achar o assunto complicado e os conceitos difíceis de entender. Por esse motivo, uma seção sobre o assunto será encontrada no Apêndice. No entanto, essa parte pode ser lida neste ponto se o leitor assim desejar.)

A Doença Mental na Bíblia

A loucura ou insanidade é mencionada várias vezes nas Escrituras, mostrando-nos que tais coisas eram presentes e bem reconhecidas tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Já vimos como a palavra "lunático" é usada no Novo Testamento para descrever aqueles que eram afligidos por pensamento e comportamento desordenado. Há muitas outras referências, no entanto, na Palavra de Deus. Nos versículos a seguir a palavra "louco" significa um padrão de pensamento e ação sem motivo ou juízo.

Em Deuteronômio 28:34, Israel foi informado que eles "enlouqueceriam com o que veriam com os seus olhos" quando vissem os terríveis juízos que Deus traria sobre eles por sua desobediência. A palavra aqui tem o pensamento de delirar através da insanidade, claramente provocada por circunstâncias adversas.

Então, em 1 Samuel 21:13-15, Davi se fingiu de louco para que Aquis, rei de Gate, pensasse que ele estava insano e não o matasse. Obviamente o ardil funcionou, pois Aquis claramente considerou que Davi estivesse louco e fora de si.

Em Eclesiastes 7:7 lemos que "a opressão faria endoidecer até ao sábio", enquanto em Oseias 9:7 lemos: "o profeta é um insensato, o homem de espírito é um louco; por causa da abundância da tua iniquidade".

Em Daniel 4:1-37, Nabucodonosor conta a sua nação como Deus o humilhou com uma doença mental severa por sete anos até que ele aprendeu uma lição muito importante, a saber, que "o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer, e até ao mais humilde dos homens constitui sobre ele" (Daniel 4:17).

Em Atos 26:24, Festo acusou Paulo de louco. A palavra aqui tem o pensamento de "mania", ou loucura. Paulo respondeu que não estava louco, mas sim que estava falando as palavras da verdade e de um são juízo. Novamente, em 1 Coríntios 14:23, Paulo diz que se incrédulos viessem à assembleia quando os crentes estivessem falando em línguas, eles pensariam que estavam loucos, ou delirantes como maníacos.

Essas referências nos mostram que a insanidade era claramente reconhecida por milhares de anos. Às vezes era trazida pelas circunstâncias, às vezes por possessão demoníaca, e às vezes pelo Próprio Deus. A palavra "lunático" é usada uma vez no Novo Testamento (Mateus 17:15) para descrever o estado de alguém que estava possuído por demônio, mas em Mateus 4:24 é feita uma distinção entres aqueles possuídos por demônios e aqueles que eram lunáticos. Um estado mental desordenado podia ser causado por possessão demoníaca, mas tal condição também podia ocorrer na ausência de um demônio. Assim vemos que doenças mentais de vários tipos e de diferentes causas são reconhecidas na Palavra de Deus.

Distúrbios Neuróticos e Comportamentais - Distúrbios de Humor

Outra manifestação frequente de doença mental é a dos distúrbios de humor. Nesta categoria estão os bem conhecidos tipos de depressão e doença maníaco depressiva. A depressão é caracterizada por sentimentos contínuos de tristeza e vazio, um interesse marcadamente diminuído em todas as atividades, uma incapacidade de se concentrar, insônia, cansaço constante e um sentimento de inutilidade. O distúrbio maníaco-depressivo (ou bipolar) é caracterizado por períodos de depressão alternados a períodos de exaltação, devaneios, tremenda energia, diminuição na necessidade de sono e extrema extroversão e necessidade de conversação. Kay Redfield Jamison, uma professora da Universidade Johns Hopkins e uma autoridade internacional em doença maníaco-depressiva, conta sua própria experiência com o distúrbio. Segue uma descrição de como ela se sentia:

"Há um tipo particular de dor, exaltação, solidão e terror envolvido nesse tipo de loucura. Quando você está alto é algo tremendo. As ideias e sentimentos são rápidos e frequentes como estrelas cadentes, e você os segue até encontrar outros melhores e mais brilhantes. A timidez se vai, as palavras e gestos corretos de repente estão lá, o poder de cativar os outros uma certeza sentida. Interesses são encontrados em pessoas desinteressantes... Sentimentos de facilidade, intensidade, poder, bem-estar, onipotência financeira e euforia permeiam sua essência. Mas, em algum ponto, tudo isso muda. As ideias rápidas são rápidas demais, e são muitas; a clareza dá lugar à confusão opressiva. A memória se vai. O humor e a assimilação dos rostos dos amigos dão lugar ao medo e preocupação. Tudo o que antes se movia favoravelmente agora se volta para trás -- você se torna irritado, assustado, incontrolável e totalmente enredado nas mais sombrias cavernas da mente. Você nunca soube que essas cavernas estavam ali. E parece que não acaba nunca, pois a loucura esculpe sua própria realidade.

"E assim continua... O que fazer então, após os remédios, o psiquiatra, o desespero, a depressão e a overdose? Todos aqueles sentimentos incríveis... o que eu fiz? Por quê? E o mais assustador: quando vai acontecer de novo? Quais dos meus sentimentos são reais? Quais dos "eus" sou eu? Será o selvagem, impulsivo, caótico, enérgico e louco? Ou o tímido, retirado, desesperado, suicida, condenado e cansado? Provavelmente um pouco de ambos, com muita esperança de não ser nenhum deles."*

{* Jamison, Kay Redfield, An Unquiet Mind. (Alfred A. Knopf, New York, 1995), pg. 67-8}

Vimos aqui um caso no qual o comportamento neurótico pode ser acompanhado de episódios ocasionais de comportamento psicótico, de modo que a linha entre condições "lunáticas" e distúrbios comportamentais é às vezes difícil de distinguir.

Distúrbios Neuróticos e Comportamentais - Distúrbios de Ansiedade

Outra manifestação bem reconhecida de distúrbio comportamental é a dos distúrbios de ansiedade. Esta é uma das formas mais comuns de doença mental. Nessa categoria encontramos coisas como fobias, distúrbios de estresse e distúrbios que causam ataques de pânico. Algumas pessoas tem um distúrbio de ansiedade generalizado, no qual se preocupam o tempo todo com quase tudo. Como pode-se esperar, tais indivíduos têm (por muitos motivos) um alto grau de ansiedade, muitas vezes acompanhada por medos irracionais. Além disso, pela ansiedade intensa e muitas vezes incapacitante, podem experimentar sintomas físicos tais como palpitações no coração, sudorese, tremores, falta de ar e tontura. Distúrbios de ansiedade podem afetar tanto crianças como adultos, como mostra o exemplo a seguir:

"Anne-Marie (não é seu verdadeiro nome) era uma filha de 10 anos de idade, de uma família intacta e apoiadora, que foi descrita como 'ansiosa de nascimento'. Ela tinha sido retraída e tímida na pré-escola, mas se adaptou bem à 1ª série e começou a fazer amigos e a se dar bem na escola. Ela apresentou várias vezes dores abdominais crônicas e difusas que eram piores de manhã e nunca ocorriam à noite. Ela tinha perdido cerca de 20 dias de escola durante o ano anterior por causa da dor. Ela também evitava viagens de campo da escola, temendo um acidente com o ônibus. Seus pais relataram que ela tinha dificuldade em pegar no sono e frequentemente pedia que a tranquilizassem.

"Ela se preocupava que ela e os membros de sua família pudessem morrer. Ela era incapaz de dormir antes de um teste. Ela não conseguia tolerar que seus pais estivessem em outro andar da casa em que ela não estivesse, e ela verificava as portas e janelas à noite, temendo intrusos.

"Seu medo de ficar sozinha, necessidade de tranquilização constante, problemas com faltas na escola eram tanto frustrantes quanto perturbadores para seus pais.

"Ela não tinha experimentado quaisquer eventos traumáticos, embora ela reagisse fortemente às imagens do 11 de setembro de 2001 na televisão. Um de seus avós tinha morrido no ano interior. Uma tia materna tinha recentemente sido tratada com fluoxetina [uma droga antidepressiva] para depressão e era descrita como 'uma pessoa nervosa'.

"Anne-Marie tem sintomas típicos de um distúrbio de ansiedade infantil."*

{* Manassis, Katharina, M.D., F.R.C.P.©), Childhood Anxiety Disorders. (Canadian Family Physician, March, 2004), pg. 380 }

terça-feira, 25 de julho de 2017

Distúrbios Neuróticos e Comportamentais - Distúrbios de Personalidade

Nesta categoria reconhecemos primeiramente uma gama de problemas que podem ser chamados de distúrbios de personalidade. Todos temos traços comportamentais que são padrões duradouros de percepção, que se relacionam e reagem a nós mesmo e aos outros em uma ampla gama de contextos. Esses traços nos tornam indivíduos distintos e são conhecidos como nossa personalidade. Em alguns indivíduos certos traços tornam-se exagerados em tal extensão que passam a ter padrões de comportamento seriamente inflexíveis e limitados. Muitas vezes a inflexibilidade de personalidade e sua vulnerabilidade a estresses específicos resultam em verdadeiras dificuldades de adaptação social, levando a distúrbios significativos na vida individual. Alguns possuem uma personalidade dependente, na qual o indivíduo tem dificuldade de tomar decisões, iniciar projetos por conta própria, ou expressar desacordo. Tais pessoas fazem de tudo para obter a aprovação dos outros e são urgentes na busca por relacionamentos. Outros possuem um tipo de personalidade evasiva, não estando dispostos a se envolverem com coisa alguma a não ser algumas coisas que gostam. Tais pessoas se preocupam em ser criticadas e são inibidas em situações novas por se sentirem inadequadas. A personalidade antissocial não tem capacidade de formar relacionamentos adequados com os outros. Eles parecem insensíveis e autocentrados, desprovidos de um senso de responsabilidade, e são dados a prazeres imediatos. Eles muitas vezes não possuem capacidade de juízo próprio, mas ainda assim são inteligentes o bastante para planejar racionalizações que convençam a si mesmos que suas ações são razoáveis e justificadas. A personalidade obsessivo-compulsiva preocupa-se com ordem, perfeccionismo e controle interpessoal, ao custo de flexibilidade, abertura e eficiência. A descrição a seguir nos fornece um exemplo de uma personalidade obsessivo-compulsiva:
"A Sra. C., uma gerente de loja de 41 anos, foi fazer uma avaliação psicológica graças à insistência do gerente regional da rede de lojas para a qual trabalha. Ela falhou em entregar os últimos quatro relatórios periódicos em tempo, e sua loja tem uma das piores taxas de produtividade da rede, apesar de ela usualmente chegar cedo no trabalho e ficar até mais tarde do que qualquer outro gerente, e parecer estar ocupada em cada minuto do dia. A Sra. C trava frequentes batalhas com seus funcionários e tem a maior taxa de rotatividade de funcionários na rede. Quando confrontada com esses problemas, ela insiste que sua loja está sendo conduzida 'adequadamente' e de acordo com as regras -- diferente das outras lojas da rede, que estariam mantendo padrões de 'má qualidade'.

"É fácil identificar a fonte da dificuldade na loja. A Sra. C insiste que seus funcionários coloquem e arranjem as mercadorias em linhas requintadamente retas. Ela verifica uma vez, duas, três, quatro vezes todos os itens, e é essa a razão pela qual ela nunca consegue terminar seus relatórios periódicos a tempo. Ela microgerencia cada aspecto da operação da loja e, consequentemente, seus gerentes subordinados estão sempre pedindo transferência para outras lojas. Em vez de apreciarem a constante supervisão da Sra. C, seus gerentes acham isso irritante e demorado. Ela está constantemente elaborando gráficos, tabelas e diretrizes de funcionários. Ela gasta boa parte de seu tempo toda manhã construindo e elaborando listas de tarefas que nunca encontra tempo para completar.

"A Sra. C é casada há 15 anos e tem dois filhos adolescentes. Seu marido é carteiro. O Sr. C relatou ao terapeuta que antes da Sra. C começar a trabalhar na loja há 6 anos atrás eles tinham muitas brigas conjugais por causa da necessidade da Sra. C de supervisionar e dirigir cada aspecto de sua vida. Ela insistia em saber onde ele estava em cada momento e tinha tentado planejar todas as atividades de seu tempo livre. Ele disse que foi um grande alívio para ele quando ela começou a trabalhar na loja, tornando-se ocupada demais para prestar tanta atenção na vida dele. O Sr. C diz que é difícil para ele e os filhos convencerem sua esposa a tirar férias e que geralmente acaba não sendo muito divertido quando ela concorda em ir. A Sra. C planeja o itinerário e as atividades minuciosamente e insiste que todos devem participar do que ela agendou. Nada de espontâneo ou não planejado é permitido, e ela espera que todos passem o tempo 'produtivamente', mesmo quando de férias."*

{* Frances, Allen, M.D., and Ross, Ruth, M.A., DSM-IV Case Studies. (American Psychiatric Press, Washington, D.C., 1996), pg. 315-6 }