domingo, 20 de maio de 2018

Sumário

Para baixar:
PDF (ideal para impressão)
EPUB (para celular, tablet e e-reader)
MOBI (para leitores Kindle)

Introdução

I - Muitas Perguntas 
II - A Natureza da Doença Mental
III - Tratamento
IV - Conclusões Finais

Apêndice

Comportamento Criminoso

O crente reconhece que todo comportamento criminoso é o resultado da atividade do que as Escrituras chamam de "a carne" -- aquele velho "eu" pecaminoso que é parte de nós como filhos de uma raça caída. Novamente, é tudo uma questão de graus, pois o que distingue a atividade criminosa de outros pecados é a transgressão de uma lei conhecida. Como vimos anteriormente, as Escrituras usam a palavra "iniquidade" para descrever o pecado, e essa palavra verdadeiramente significa "ilegalidade", ou a ação de uma vontade independente. Como tal, o pecado é aquilo que é feito sem referência a Deus, e assim as Escrituras nos dizem que "a lavoura dos ímpios é pecado" (Provérbios 21:4). Não que o ato de lavrar seja em si mesmo pecado, mas sim o fato de que o homem o faz independente de qualquer consideração sobre sua responsabilidade perante Deus. No entanto, Deus instituiu e reconhece o governo na Terra, e governos estabelecem leis de modo a regular a sociedade e reduzir o mau comportamento. 

Em alguns indivíduos com doença mental severa, a atividade criminosa ocorre -- o que não apenas é anormal, como também causa sérios danos. Em distúrbios de personalidade sérios, particularmente a assim chamada personalidade antissocial, há aqueles que são, às vezes, chamados de "psicopatas". Esses indivíduos possuem tanto traços de personalidade anormal severa quanto um marcante desvio de comportamento, ainda que muitas vezes pareçam muito normais e totalmente no controle da situação. Eles são geralmente espertos, charmosos e capazes de manipular bem os outros, enquanto por baixo eles permanecem totalmente egocêntricos, cruéis e aparentemente sem sentimentos ou remorso. Eles também são caracterizados pela impulsividade, uma necessidade por excitação, uma falta de responsabilidade, e uma tendência a enganar e mentir com frequência. Deixados a si mesmos, tais indivíduos muitas vezes acabam vivendo uma vida de crime de um tipo ou de outro, cobrindo todo o espectro de coisas desde fraude e peculato até violência, roubo e assassinato a sangue frio.

Tudo isso tem suas raízes no pecado que afetou o indivíduo de uma forma muito severa, agravado em muitos casos por uma educação e uma sociedade que agora não consegue controlar as manifestações exteriores disso. No passado, os efeitos da vida familiar estável, a disciplina firme e os princípios cristãos na sociedade tendiam a controlar tais comportamentos, ao menos em grande medida, mas as duas últimas décadas têm testemunhado um tamanho declínio moral nos países ocidentais que tem havido um marcante aumento de crimes sérios. Mais que isso, tais crimes estão sendo cometidos por crianças em idade cada vez mais jovem, e estamos vendo crianças com menos de dez anos que parecem capazes do tipo de violência estúpida que antes era vista apenas em criminosos adultos endurecidos. Estamos entristecidos com tudo isso, mas não deveríamos estar surpresos, pois quando o homem deixa Deus de lado, Deus pode deixar o homem para que experimente o efeito total do que ele escolheu.

Para piorar o problema, há o fascínio público por tal comportamento, pois o mal é naturalmente atraente para o nosso "eu" pecaminoso. Um artigo de jornal descreveu isso da seguinte forma: 
"Da malícia leve à criminalidade cruel, a realização de más ações é algo que o resto da população evidentemente deseja conhecer. Esta é uma forma de explicar o porquê do psicopata, a personificação do mal sem remorso, ter tal lugar estabelecido na consciência pública. Somos todos psicopatas debaixo da pele."*
{* Weber, Bruce, Cozying Up to the Psychopath That Lurks Deep Within. (New York Times, February 10, 1991).} 

Tal indivíduo e nossa resposta a ele/ela evidencia tanto o efeito da queda em nós como criaturas de Adão quanto o pecado voluntário. Sem dúvida, o psicopata é geneticamente predisposto à sua estrutura ruim de personalidade, mas então sua vontade toma essa tendência e a permite agir em pecado aberto. Alguns diriam que esses indivíduos nasceram sem uma consciência, uma vez que eles parecem não sentir remorso por seus atos terríveis. Isto não é verdade, pois o homem adquiriu uma consciência (o conhecimento do bem e do mal) quando Adão e Eva comeu da árvore do conhecimento do bem e do mal. A verdadeira raiz do problema é encontrada no Salmo 53:1: "Disse o néscio no seu coração: Não há Deus". A consciência do homem precisa de luz para funcionar adequadamente, e se Deus e Suas reivindicações são rejeitadas, então o homem se comporta como se não houvesse Deus. Outra pessoa comentou mais habilmente sobre esse versículo:
"O segredo desse curso [do homem] é antigo também... todo o caminho do ímpio vem disso. Para ele não há Deus. A fé não existe, e Deus não é visto. Esse é o segredo de todo o erro na prática e no raciocínio humano. Quanto mais examinamos todo o curso da ação humana, as falhas de nós cristãos, os vários devaneios da filosofia, mais descobriremos que a negação de Deus está na raiz de tudo. Aqui temos o caso em que a consciência não percebe Deus. O coração não tem desejo por Ele, e a vontade funciona como se não houvesse ninguém. O homem assim diz (que não há Deus) em seu coração. Por que ele diria isso? Porque sua consciência lhe diz que, sim, existe. Sua vontade não quer que Ele exista; e, como Deus não é visto em Seus trabalhos, a vontade vê apenas o que quer. Deus é posto de lado, e toda a conduta está sob a influência da vontade, como se Deus não existisse"*
{* Darby, J. N., Practical Reflections on the Psalms. (Bible Truth Publishers, Addison, IL, 1978), pg. 136 }

A crescente tolerância e até admiração de outros por alguns desses traços tem, de fato, sérias implicações, e veríamos o ápice disso se o Senhor nos deixasse aqui por um pouco mais de tempo. Enquanto a personalidade e comportamento dos assim chamados psicopatas possa ser extrema, devemos nos lembrar das solenes palavras das Escrituras: "Como na água o rosto corresponde ao rosto, assim o coração do homem ao homem" (Provérbios 27:19). O artigo do jornal se expressou bem quando comentou que todos somos psicopatas debaixo da pele. Os "tempos trabalhosos (perigosos)" mencionados em 2 Timóteo 3 e nos quais estamos agora vivendo, sem dúvida, verão uma prevalência crescente de tais comportamentos pecaminosos, e culminarão na completa anarquia após a Igreja ser chamada para o lar.

Embora possamos deplorar essas horríveis exibições do "eu" pecaminoso do homem que estamos testemunhando hoje, lembremo-nos que, como o escritor citado acima diz, o segredo de todo o erro em nós, mesmo como crentes, é o fato de pensarmos e agirmos independentemente de Deus. Que possamos ser mantidos perto daquEle que não apenas nos fez, como também enviou Seu Filho, "o qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau" (Gálatas 1:4). Fomos moralmente libertos disso; logo seremos fisicamente libertos disso, na vinda do Senhor. "Ora vem, Senhor Jesus" (Apocalipse 22:20).

Possessões Demoníacas

Foi Satanás (disfarçado de serpente) que primeiramente mentiu para Eva e a tentou a desobedecer a Deus ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Aprendemos de outras passagens que Satanás já foi, uma vez, um dos anjos de Deus, mas que se rebelou contra Deus, desejando ter um lugar que não lhe pertencia. Outros anjos evidentemente se rebelaram juntamente com ele, de modo que agora há milhares de demônios que constituem as hostes de Satanás. Eles estão constantemente buscando frustrar os propósitos de Deus e frequentemente o fazem vivendo em homens e mulheres, influenciando suas mentes e corpos de uma maneira ruim. Às vezes essa influência maligna envolve a tomada de controle da alma e do espírito humano (e finalmente do corpo) e a produção de sintomas de doença mental.

Há vários exemplos disso nas Escrituras. Em Mateus 17:14-21, temos a história de um garoto que foi possuído por um demônio, e que, como resultado, foi descrito por seu pai como "lunático e [que] sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo, e muitas vezes na água". Quando o Senhor Jesus expulsou o demônio, a criança foi curada. Em Marcos 5:1-20 lemos a história de um homem que estava possuído por demônios, e que vivia entre as tumbas, nu, gritando e se cortando com pedras. Quando Jesus expulsou os demônios, ele apareceu "vestido e em perfeito juízo" (Marcos 5:15).

Houve muitos outros relatos de testemunhas oculares que contam daqueles que agiram de modos muito anormais, evidentemente por causa da influência de demônios que os possuíram e perturbaram. Muitas vezes as alucinações e comportamento bizarro exibidos por essas pessoas é atribuído a outras causas, até que a verdadeira natureza do problema é reconhecida. Pessoas em países africanos e asiáticos sabem bem como feitiços e macumbas podem afetar não apenas o corpo, como também a mente das pessoas. Um psiquiatra americano, que trabalhou no Zimbábue por um ano, relata o seguinte, no que diz respeito a um paciente que ele foi chamado a tratar (o termo "irmã" refere-se simplesmente a uma enfermeira):
"'Você consegue entender o que ela está dizendo, Irmã?' 
"'Sim, algumas coisas', respondeu a Irmã Chimhenga. 'Amai está dizendo que sua bisavó, Ambuya Zezuru, está falando com ela, e a possuindo. Ela é chamada por Ambuya para sofrer por seus pecados.' 
"Eu sabia o que a palavra Shona 'ambuya' significava, e que 'amai' significava 'mãe' ou 'patroa', mas eu não tinha entendido todo o significado cultural da interpretação da Irmã. 'Irmã, me desculpe, mas o que isso tudo significa?' 
"'Significa que Amai acredita estar enfeitiçada por sua bisavó, que pode ter sido uma profetiza em seu tempo. Um espírito ancestral importante.' 
"'Um feitiço?' 
"'Poderia ser', disse ela, pausando. 'A família dela deve ter pensado assim'"*
{* Linde, Paul R., Of Spirits and Madness. (New York, McGraw-Hill, 2002), pg. 105}

Infelizmente, enquanto grande parte do mundo definha em cativeiro nas mãos de tais forças malignas, muitas pessoas nos países ocidentais negam a existência de Satanás. O poder de Satanás está aumentando em países antes considerados cristãos, à medida que Deus e Suas reivindicações estão sendo cada vez mais deixadas de lado. Considere o seguinte incidente que ocorreu na prática de um médico cristão que eu conheço bem:
"Há cerca de seis anos atrás, eu estava entrevistando uma mulher em um quarto de hospital. Ela estava seriamente deprimida e não respondia aos remédios. Enquanto eu lhe fazia perguntas sobre seus pensamentos, ela de repente desenvolveu um olhar 'vidrado', e eu logo soube que ela não podia mais me ouvir. Ela parecia estar congelada em seus próprios pensamentos enquanto fixava o olhar para o nada. Momentos depois, ela falou com uma voz mecânica e antinatural: 'Deixe ela em paz; ela é nossa!' 
"Não foi necessário muito discernimento para perceber que eu não estava mais falando com minha paciente e que uma força maligna e sobrenatural tinha empurrado ela para o lado para me intimidar diretamente."*
{* Mullen, Grant, M.D., Emotionally Free. (Chosen Books, Grand Rapids, MI, 2003), pg. 103, 109 }

Como o médico já tinha percebido nesse caso, os remédios usuais para tratar a depressão não estavam surtindo efeito naquela mulher. Uma força maior do que ela mesma tinha tomado posse dela, e apenas pelo expulsar do demônio ela poderia ser curada. Às vezes, aqueles sob poder demoníaco ouvirão vozes ou verão coisas irreais, e ocasionalmente é difícil saber, ao menos no início, se o indivíduo está sofrendo de uma doença psicótica ou se está experimentando um ataque demoníaco. Às vezes, profissionais que não são crentes não reconhecerão o que está acontecendo e colocarão o paciente sob medicação a princípio, apenas para descobrirem que ela não vai funcionar de forma previsível.

Desde o tempo em que o mundo rejeitou o Senhor Jesus Cristo, as Escrituras chamam Satanás tanto de deus como de príncipe deste mundo (Veja 2 Coríntios 4:4 e João 14:30). Ele é o deus deste mundo religiosamente e seu príncipe politicamente. Ele sabe que é um adversário derrotado, mas neste tempo da graça de Deus, ele continua sendo o "príncipe das potestades do ar" (Efésios 2:2), realizando a sua obra maligna. Ele pode habitar em um incrédulo, assumindo o controle de sua pessoa e o forçando a fazer o que quer que o espírito maligno comande. Embora ele não possa habitar em verdadeiros crentes (porque são habitados pelo Espírito de Deus), ele pode e consegue perturbá-los, especialmente aqueles que podem ter se envolvido com práticas ocultas antes de serem salvos. Ler livros pecaminosos (tais como os pornográficos) ou ocultos, ou assistir a entretenimentos que contenham temas malignos, pode abrir a porta para esses ataques demoníacos. Além disso, envolver-se deliberadamente em práticas ocultas (tais como usar tabuleiros Ouija, cantar chamadas ao mundo espiritual, envolver-se com adivinhos, etc.) pode convidar esses espíritos malignos para nossas vidas.

O único remédio para a possessão demoníaca é a autoridade do Senhor Jesus que pode comandar que um demônio saia da pessoa. O Senhor Jesus fez isso várias vezes durante seu ministério na Terra, e certamente os apóstolos também o fizeram. O Senhor Jesus tornou esse poder disponível a todos os crentes, através de Seu nome. Antes de subir de volta para o céu, o Senhor Jesus disse: "E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios" (Marcos 16:17). Agora é possível que demônios sejam expulsos daqueles afligidos por eles por causa do poder no nome do Senhor Jesus. A seguinte história real mostra como isto aconteceu no caso de uma mulher possuída por demônios:
"A senhora K... veio me ver para falar de uma depressão de longa data. Ela estava muito vaga e nervosa durante a primeira parte da entrevista. Após alguns minutos de conversa fiada e questões preliminares ela me disse: 'Estou com dificuldade em te ouvir pois há três pessoas falando comigo continuamente em minha mente.' Bem, essa era uma experiência nova para mim. Ela claramente não era esquizofrênica, então eu sabia que não se tratava de uma doença psicótica fazendo-a ouvir vozes. Ela estava totalmente sã, embora deprimida. 
"Eu não sabia muito bem o que fazer, mas eu me perguntei se ela estaria tendo uma daquelas experiências ocultas que eu tinha passado tantas horas perguntando sobre. Essa interferência tornaria a entrevista muito difícil, então eu fiz uma pausa e fiz algumas notas simples em sua ficha para comprar tempo. Em meu coração eu disse a Deus: 'Eu não sei o que está acontecendo aqui. Se essa mulher está ouvindo espíritos malignos, em nome de Jesus, por favor, cale-os para que eu possa terminar esta entrevista' .
"Quando, então, eu levantei meus olhos das anotações, ela olhava para mim com uma intensidade que eu não tinha visto nela antes e disse: 'O que você acabou de fazer?' Eu expliquei que eu tinha apenas anotado sua última fala na ficha. Ela não se contentou com essa resposta e persistiu: 'Não, você fez mais alguma coisa.' Eu estava confuso naquele momento e novamente afirmei que eu só estava escrevendo em sua ficha, e perguntei o que a fazia pensar que eu teria feito qualquer outra coisa. Sua resposta mudou o curso da minha vida espiritual e profissional quando ela afirmou: 'Você fez algo, pois as vozes pararam pela primeira vez em vinte anos. Elas estão agora se escondendo, e estão com medo de você. O que você fez?'... 
"Minha mente de repente se abriu para o fato de que sim, de fato, ela estava sã e estava sendo atormentada por vozes de demônios. Eles pararam de falar com ela porque quando eu orei a autoridade de Cristo encheu a sala e eles ficaram com medo..."*
{* Mullen, Grant, M.D., Emotionally Free. (Chosen Books, Grand Rapids, MI, 2003), pg. 90-91 }

É importante reconhecer o poder demoníaco como uma causa muito real de doença mental, não apenas em tais casos óbvios como o que acabamos de citar, mas também em outras manifestações tais como em padrões de pensamento malignamente distorcidos, insônia, pesadelos e ataques de pânico. Como a Palavra de Deus é abandonada e os valores e princípios cristãos são cada vez mais ignorados, acredito que estamos vendo um aumento na atividade de Satanás em países onde seu poder era anteriormente restringido em grande parte pela luz do Cristianismo.

Para o crente, o melhor antídoto para tais ataques de Satanás é uma vida vivida em comunhão com o Senhor. Os efésios tinham sido pesadamente envolvidos em práticas ocultas antes de ouvirem o evangelho, mas após terem sido salvos foi registrado em Atos 19:19 que "muitos dos que seguiam artes mágicas trouxeram os seus livros, e os queimaram na presença de todos". Em sua epístola a esses mesmos crentes alguns anos depois, Paulo pôde dizer-lhes: "E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as" (Efésios 5:11). Aos colossenses ele pôde dizer: "Ao Pai... o qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor" (Colossenses 1:12,13). O crente foi libertado do poder de Satanás, mas se ele persiste em viver uma vida mundana e se ocupa com comportamentos pecaminosos, ele novamente se coloca em uma posição na qual Satanás o pode perturbar. Lembremo-nos que fomos libertos do reino maligno de Satanás, e que somos agora chamados a "andarmos como filhos da luz" (Efésios 5:8). Se obedecermos a essa exortação, não daremos a Satanás a oportunidade de ganhar influência sobre nós.

A Vontade

Já vimos que a vontade está conectada ao "eu" consciente -- a parte de nós que está acima do espírito, alma e corpo, e que definitivamente é capaz de influenciar e controlar todos os três. A vontade foi afetada pelo pecado, tanto que o homem caído agora tem vontade de fazer o mal. Assim Deus pôde dizer, no que diz respeito à humanidade nos tempos de Noé: "Toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente" (Gênesis 6:5). De fato, todo o exercício da vontade do homem é errado em si mesmo, pois, como criatura, a responsabilidade do homem é a de obedecer.

A palavra usada para o pecado e a iniquidade nas Escrituras pode realmente ser traduzida como "desobediência" ou "ilegalidade", simplesmente significando o exercício de uma vontade independente. Uma vontade independente está sempre errada, mesmo quando estiver fazendo coisas que possam não ser erradas em si mesmas. Mas essa vontade sempre vai querer fazer o mal, por causa da natureza pecaminosa do homem. O crente possui uma nova vida em Cristo, uma nova natureza que deseja agradar a Deus. Assim em 1 Pedro 4:2 lemos que "as concupiscências dos homens" contrastam com "a vontade de Deus".

Pelo fato da vontade ser afetada por nosso ego pecaminoso, "a carne", como nos dizem as Escrituras, vemos que a mente também é afetada. Colossenses 2:18 fala de alguém que está "debalde (em vão) inchado na sua carnal compreensão (mente)", enquanto Romanos 8:7 nos lembra que "a inclinação (mente) da carne é inimizade contra Deus". Paulo pôde falar sobre como eram os efésios antes de serem salvos: "fazendo a vontade da carne e dos pensamentos (mente)" (Efésios 2:3). A mente foi feita serva de nossa natureza pecaminosa, e Satanás usa as cobiças malignas do homem para induzi-lo a cometer pecado.

A Carne

Outro termo que precisamos definir é o que as Escrituras chamam de "carne". A palavra é usada de várias maneiras na Palavra de Deus. Às vezes é usada simplesmente para indicar o corpo como algo distinto da alma e espírito, como por exemplo em 1 Coríntios 15:50, onde nós é dito: "A carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus". A palavra pode também ser usada para descrever a natureza humana em geral -- o homem em todo o seu ser. Referindo-se à encarnação, lemos que "Deus se manifestou em carne" (1 Timóteo 3:16), e certamente isto implica mais do que simplesmente o fato de que o Senhor Jesus tomou um corpo. Ele teve uma alma e espírito humano (sem pecado), pois Ele foi um homem em todo o sentido da palavra. Do mesmo modo, quando Pedro e os outros caíram no sono no jardim de Getsêmani, o Senhor pôde dizer: "O espírito está pronto (disposto), mas a carne é fraca" (Mateus 26:41). O "eu" consciente de Pedro desejava seguir o Senhor, mas ele não percebeu a fraqueza de sua carne natural. Todo o seu ser natural estava envolvido nessa fraqueza, e não apenas seu corpo. Mas a palavra é também usada para descrever aquele ego pecaminoso que o homem adquiriu quando caiu -- a natureza pecaminosa do homem que não pode fazer nada além de pecar. Assim lemos em Romanos 7:18: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum". Paulo pôde dizer aos gálatas: "Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção" (Gálatas 6:8). William Kelly faz os seguintes comentários no que concerne ao termo "a carne":
"Eu emprego a expressão 'natureza humana' de forma abstrata para a humanidade, sem questionar o estado em que foi originalmente criada ou no qual rapidamente caiu. Nesse sentido a palavra 'carne' é às vezes usada  nas Escrituras simplesmente para se referir à natureza do homem, como em: "E o Verbo se fez carne" (João 1:14), "Deus se manifestou em carne" (1 Timóteo 3:16), Jesus foi "mortificado, na verdade, na carne" (1 Pedro 3:18), "Jesus Cristo veio em carne" (1 João 4:2,3, etc.), etc. O sentido doutrinal especial do termo, ao caracterizar a condição moral da raça, particularmente nas Epístolas de Paulo, aponta para o princípio da vontade própria no coração"*

{* Kelly, William, Christ Tempted and Sympathizing. (The Bible Treasury, Vol. 20), pg. 173-4 }

O Intelecto

O intelecto pode também ser visto como parte da mente, como sendo aquilo que o homem usa para raciocinar, e que o capacita a usar conhecimentos adquiridos para fazer deduções. Em um outro sentido, é também parte do cérebro, naquilo que está ligado à capacidade de aprender, e então de usar o que foi aprendido. Assim, um intelecto pode ter habilidades em diferentes vertentes, pois uma pessoa pode ser boa em matemática e outra pode ser excelente em escrita criativa. É importante reconhecer que o intelecto nunca pode descobrir qualquer coisa no que diz respeito às coisas divinas: ele pode deduzir conclusões corretas, mas jamais pode ir além disso. O homem, quanto a sua mente e intelecto, é sempre um descobridor, nunca um criador. Ele pode usar seu intelecto para raciocinar com conhecimento e assim chegar a conclusões corretas, mas o próprio conhecimento é sempre o produto do testemunho ou da experiência.

A Mente

A mente é aquela que pensa, percebe e raciocina. De acordo com as Escrituras, temos algum controle sobre ela, pois elas nos instruem a "termos nossa mente nas coisas que estão acima, e não nas coisas que estão na terra" (Colossenses 3:2, tradução de J. N. Darby). Meu coração (como morada da afeição) vai atrás das coisas que são importantes para mim, mas eu possuo a capacidade de colocar minha mente em algo como um ato de minha vontade. Assim, minha vontade, enquanto em um sentido faça parte da minha mente, também a controla e direciona de diferentes formas. Assim o homem em Romanos 7:25 diz: "Assim que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado". Aqui sua mente deseja fazer o que é certo, mas sua carne, seu velho ego pecaminoso, só consegue pecar. No incrédulo, sua mente é influenciada e está definitivamente sob o controle de sua carne, seu ego pecaminoso, e Satanás usa isso para manipular sua mente de um modo maligno. Assim lemos sobre Nabucodonosor cujo "coração se exaltou, e o seu espírito se endureceu em soberba" (Daniel 5:20). Romanos 12:2 fala da "renovação do vosso entendimento (mente)" como um resultado da mente estar sob o controle do Espírito de Deus em vez de estar sob o controle de Satanás e da carne.

O Coração

O "coração" é uma expressão muito geralmente usada para se referir ao homem interior. Às vezes é mencionado como a sede da afeição e do desejo, e em outras como o ego pecaminoso com seus desejos malignos. Quando as Escrituras dizem: "Se o nosso coração nos condena" (1 João 3:20), então está se referindo à consciência. Quando lemos: "Dá-me, filho meu, o teu coração" (Provérbios 23:26), diz respeito as nossas afeições. Em Jeremias 17:9 descobrimos que "enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" Aqui é o homem em toda sua pecaminosidade como um resultado de sua queda. Quando lemos: "O véu está posto sobre o coração deles" (2 Coríntios 3:15), trata-se da percepção espiritual ou a falta dela. Assim o coração se refere a qualquer exercício moral que ocorre dentro de nós, mas a palavra deve ser interpretada, até certo ponto, pelo contexto em que é usada.

domingo, 18 de março de 2018

O "Eu" e a Personalidade

No entanto, o assunto é muito mais complicado até mesmo do que considerações tratadas podem indicar. Vimos que o homem é um ser tripartido composto de corpo, alma e espírito. Enquanto cada um é distinto do outro, sabemos que cada um se comunica com o outro, e cada um afeta o outro, seja positiva ou negativamente. A alma e o espírito devem operar e se expressar através do corpo, e o corpo não pode funcionar sem a alma e o espírito. Assim, as Escrituras nos dizem que "o corpo sem o espírito está morto" (Tiago 2:26). Assim como o corpo não pode fazer nada sem a alma e o espírito estarem nele, assim a alma e o espírito não podem se expressar neste mundo sem um corpo. Os três devem trabalhar juntos.

Mas como eles trabalham juntos? O que é que orquestra a união do espírito, alma e corpo de modo que possam funcionar de maneira integrada? Já observamos o versículo que nos diz que "[Ló] afligia todos os dias a sua alma justa" (2 Pedro 2:8). Em Provérbios, Salomão fala de alguém "que domina o seu espírito" (Provérbios 16:32, Almeida Atualizada). Paulo podia dizer aos crentes em Roma: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal" (Romanos 6:12). É evidente que há um "eu" consciente, aquela essência do indivíduo que influencia e dirige o espírito, alma e corpo, mas que não faz parte desses três. Todos os três -- espírito, alma e corpo -- são unidos sob uma personalidade, ainda que o "eu" esteja acima deles, e assim é mais do que a soma do espírito, alma e corpo. A seguinte excelente citação resume o assunto para nós, e delineia a diferença entre o "eu" consciente, o espírito, a alma e o corpo:
"Ademais, julgamos que as Escrituras distinguem entre 'personalidade' – o 'eu' consciente – e o espírito, a alma e o corpo, já que nem definitivamente, e muito menos exclusivamente, identifica a personalidade em algum dos três. Lemos que 'o espírito do profeta está sujeito ao profeta' (1 Co 14:32). Temos o verso no Velho Testamento que diz: 'Aquele que governa o seu espírito' (Pv 16:32). Em conexão com a alma, Davi disse: 'humilhava a minha alma' (Sl 35:13); 'Levanto a minha alma' (Sl 86:4). Salomão fala de um homem que destrói a sua alma e violenta a sua alma (Pv 6:32 e Pv 8:36). Em relação ao corpo, Paulo pôde dizer: 'subjugo o meu corpo' (l Co 9:27). Essas e muitas outras passagens parecidas poderiam mostrar que, no homem, há a união do material e do espiritual sob uma única personalidade, como disse alguém: 'Dia após dia, hora após hora, minuto após minuto, observamos que todos, dentro de si, possuem uma autoridade central, dirigindo e controlando, por um lado, os movimentos e as operações de uma estrutura animal, e por outro, as faculdades e esforços de um espírito inteligente, ambos os quais encontram, nessa autoridade ou pessoa central, o seu ponto de unidade. Quanto isso pode ser desconhecido para nós'. A isso podemos acrescentar que, se a morte sobrevier, o 'eu' está identificado com aquilo que é imaterial – o espírito e a alma – e, quando ainda no corpo, seja agora ou no estado de ressurreição, o 'eu' está certamente identificado com o espírito, a alma e o corpo."*

{* Smith, Hamilton, "O Filho de Deus - Sua Deidade, Encarnação, e Humanidade". Disponível em https://pt.scribd.com/document/106757661/O-Filho-de-Deus-Sua-Deidade-Encarnacao-e-Humanidade}

Como o autor da citação acima diz, tudo isso está além da compreensão humana. Deve ser observado, no entanto, que na citação acima, o autor usa a palavra "personalidade" para descrever a essência do próprio indivíduo, não meramente os traços particulares que distinguem um indivíduo do outro. Somos lembrados do que a Palavra de Deus diz em Eclesiastes 11:5: "Assim como tu não sabes qual o caminho do vento [espírito], nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas". Observamos neste versículo que ambos o espírito e o corpo (ossos) são mencionados, mostrando-nos que realmente não sabemos como o espírito entra no corpo, ou mesmo como o próprio corpo é formado. O homem pode ter descoberto o DNA, mas como isso tudo funciona é ainda um mistério. Como não podemos entender o "caminho do espírito", e "nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida", assim não podemos entender exatamente como as partes físicas e não físicas do ser humano interagem umas com as outras.

Muitas questões surgem nesse ponto, e algumas delas não podem ser respondidas. Como essa coisa que chamamos de "vontade" energiza a alma e espírito, e como a alma e o espírito se comunicam com o cérebro (o corpo) de modo que os atos voluntários possam ser executados? Como o corpo influencia a alma e o espírito? O que é a dor, e por que a sentimos? Por que interpretamos um odor como sendo prazeroso e outro como sendo ruim? Tais questões podem ser interessantes, mas, novamente, estão definitivamente além de nossa compreensão.

Por causa da natureza complexa do homem, descobrimos que alguns aspectos da doença mental serão, do mesmo modo, impossíveis de serem explicados. A disrupção que o pecado introduziu afetou o homem em todas as partes de sua natureza, e resultou em distúrbios que envolvem todas as três partes de seu ser -- espírito, alma, e corpo. Enquanto podemos ser capazes de fazer algumas observações e traçar conclusões, estamos definitivamente em um domínio onde somente Deus pode compreender plenamente.

Ao mesmo tempo, não permitamos o que não podemos entender estragar e talvez obscurecer o que podemos compreender. Voltemos a lembrar que "Seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade" (2 Pedro 1:3). Se, durante essa discussão, encontrarmos coisas que estão além de nosso entendimento, não sejamos desencorajados. Se Deus não nos disse algo, então podemos descansar assegurados de que não é necessário para a vida e piedade. Deus não escolheu satisfazer toda a nossa curiosidade, mas Ele nos deu o que é necessário para viver para Sua glória neste mundo.

domingo, 21 de janeiro de 2018

Alma e Espírito

Alma e espírito são frequentemente usadas para se referir à mesma coisa, quando as Escrituras falam da parte não física do homem, em contraste com seu corpo. Dependendo da ênfase, às vezes a palavra "alma" pode ser usada, e em outras vezes a palavra "espírito". Em 2 Pedro 2:8, lemos que "[Ló] afligia todos os dias a sua alma justa", enquanto em 1 Samuel 30:12, no que diz respeito ao servo de um amalequita, as Escrituras dizem: "E comeu, e voltou-lhe o seu espírito". Assim, enquanto as Escrituras fazem distinção entre eles, a alma e o espírito nunca se separam -- pelo contrário, um é a parte mais elevada do outro. Como a parte mais inferior do ser imortal do homem, a alma está conectada aos seus apetites e emoções -- aquilo que faz cada um de nós um indivíduo, distintos uns dos outros na personalidade. Por exemplo, o Salmo 107:9 nos diz: "Pois fartou a alma sedenta, e encheu de bens a alma faminta". O espírito, por outro lado, é a parte mais elevada do ser humano. Tem mais a ver com a consciência inteligente ativa, e inclui a parte do homem que é consciente de Deus. No crente, o espírito é frequentemente conectado ao Espírito Santo que habita nele, e que age em seu espírito para produzir atividades adequadas para nossa nova vida em Cristo. Assim lemos em Romanos 8:16 que "o mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus".

Muito mais poderia ser dito sobre este assunto, mas o espaço não nos permite entrar em tudo o que as Escrituras nos dão no que diz respeito à alma e ao espírito do homem. Para uma consideração mais detalhada do assunto, sugerimos ao leitor dois excelentes panfletos: "Body, Soul, and Spirit", de J. R. Gill, e "Man: A Tripartite Being composed of Spirit, Soul, and Body", de H. C. A.*

{* Disponível em Bible Truth Publishers, 59 Industrial Rd., Addison, IL, U.S.A. 6010. E pela Web: Link 1, Link 2.}

O Corpo

Esses versículos (na seção anterior) nos dizem claramente que o homem é um ser tripartido, composto de espírito, alma e corpo. O corpo é a parte física, ou material, de seu ser, enquanto sua alma e espírito são a parte espiritual, ou não física, do homem. Esta mesma verdade permeia toda a Palavra de Deus e é também encontrada no Antigo Testamento. Diferentes palavras são usadas, tanto no Hebraico quanto no Grego, para distinguir "alma" e "espírito". Criaturas no reino animal possuem corpo, e em um certo sentido também possuem alma, pois uma "alma vivente" (Gênesis 1:22, etc.) é qualquer coisa que vive pelo sangue e respira. Assim, no dilúvio, na época de Noé, as Escrituras dizem que "tudo o que, em cujas narinas, havia o fôlego de vida... morreu" (Gênesis 7:22, versão King James). Mas enquanto os animais são almas viventes, eles não foram criados pelo sopro de Deus neles, o fôlego da vida, como é dito do homem (Gênesis 2:7). Esta é uma imensa diferença e claramente marca o homem como um ser distinto da criação animal inferior. Às vezes, a alma é chamada de "homem interior" (Romanos 7:22, etc.), distinguindo-a do corpo, o "homem exterior" (2 Coríntios 4:16). A alma do homem é imortal, como é claramente visto no caso do homem ímpio no hades após a morte, em Lucas 16. Assim, as Escrituras falam de "vossos corpos mortais" (Romanos 8:11), em contraste com a alma, que é imortal.

As Escrituras nos dizem no Salmo 139:14 que somos "de um modo assombroso, e tão maravilhoso... feitos". As seguintes observações nos mostram algo sobre a magnitude e maravilha da formação do corpo:
"Cada pessoa, no momento da concepção, começa a vida como uma única célula. Como essa célula sabe o que fazer para construir um corpo composto de trilhões de células individuais de diferentes tipos e funções? A maioria das crianças na escola conhecem a resposta: impressas naquela célula original estão as instruções para a construção e operação do corpo humano -- instruções que serão seguidas infalivelmente. O DNA replica esse plano em cada célula produzida. E cada célula, maravilhosamente, saberá que parte dessas instruções seguir.

"A criança que vai à escola hoje também sabe que o DNA tem uma incrível capacidade de guardar informações. A informação contida em DNA do tamanho de um alfinete encheria uma pilha de livros 500 vezes mais alta do que a distância da terra à lua! [Isto seria uma pilha de 120 milhões de milhas de altura!] Seriam necessários dezenas de milhares de computadores comuns para armazenar e processar essa quantidade de dados.

"Mas a aula de DNA vai muito além... As três bilhões de letras químicas [no genoma humano] expressam a informação em uma linguagem que deve ser lida para ser utilizável! Uma linguagem necessariamente envolve ideias enquadradas em regras gramaticais e pode ser criada e expressa apenas pela inteligência...

"Uma linguagem expressa pensamentos -- e pensamentos não são físicos! Eles podem ser articulados de forma física, tais como por meio de sons, palavras ou sentenças em uma página ou por meio das letras químicas do DNA. Obviamente, no entanto, os pensamentos transmitidos pela linguagem são independentes do material sobre o qual eles são expressos. Uma sentença pode ser escrita em papel, madeira, areia, em um chip de computador, ou em uma fita de áudio, mas nenhuma dessas originou a mensagem. Deve haver uma fonte inteligente e não física, que seja independente dos meios físicos de armazenamento de comunicação."*
{* Hunt, Dave, The Berean Call, January, 2001. (P.O. Box 7019, Bend, OR), pg. 1}
 
O corpo humano é extremamente complicado, e talvez nada nele seja tão complicado como seu cérebro. Este é o órgão no qual todas as funções do corpo são coordenadas, sejam voluntárias ou involuntárias. Além disso, todo o processo de pensamento deve ser mediado pelo cérebro, e a memória deve ser armazenada ali. Qualquer lesão no cérebro pode causar efeitos profundos, não somente nas funções corporais e processos de pensamento, mas também na personalidade da pessoa. Embora o cérebro seja o assunto de muito estudo e pesquisa, é ainda pobremente compreendido.

No entanto, o homem não é constituído apenas de corpo, como vimos, mas também de alma e espírito. Vejamos o que as Escrituras dizem sobre eles.

A Natureza do Homem

Ao discutirmos sobre a doença mental, é bom termos um entendimento do homem e de sua natureza, como nos é ensinado na Palavra de Deus. É porque o homem é um ser tão complexo que a doença mental é tão complicada. Dois versículos nas Escrituras que nos dizem claramente do que é constituído o homem são encontrados em 1 Tessalonicenses 5:23 e Hebreus 4:12:
"E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Tessalonicenses 5:23)

"A palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração" (Hebreus 4:12)

Conclusões Finais

Seção 4


Ao fazermos algumas observações finais, lembremo-nos de várias coisas. Primeiramente, vamos enfatizar novamente que Deus permitiu as doenças mentais na vida dos crentes, assim como Ele permitiu as doenças físicas. Muitas vezes, Sua graça é demonstrada mais na superação de tais problemas do que se nunca tivéssemos experimentado tais dificuldades. As palavras de um poema me vêm a mente:
"Muitos e muitos, como um menestrel arrebatador
Em meio àquelas cortes de luz
Dirão de sua mais doce música:
'Aprendi isso na noite!'

"E muitos, em uníssono canto
Que enche a casa do Pai
Clamaram em suas primeiras provas
Sob a sombra de um cômodo escuro."*
{* Tradução livre.}

Quantos já desfrutaram de hinos como os de William Cowper, cujo nome já mencionamos. E tais hinos foram escritos sob a experiência da doença maníaco-depressiva. Quantos santos de Deus já sofreram sob sérias dificuldades, e ainda assim encontraram, na graça de Deus, suficiência para ajudá-los a superá-las, e levaram consigo um testemunho brilhante, apesar de todos esses problemas!

Em segundo lugar, lembremo-nos que "as coisas que se veem são temporais" (2 Coríntios 4:18), e que "a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente" (2 Coríntios 4:17). As dificuldades desta vida podem parecer, às vezes, esmagadoras, mas o crente pode enxergá-las, todas, na luz da eternidade. Tais coisas não são apenas temporais, mas, como nosso versículos nos diz, operam por nós um peso eterno de glória muito mais excelente. Sem dúvida, há tempos em que são grandes as dificuldades, mas se elas são aceitas como vindas do Senhor, e que podem ser retiradas através dEle, elas podem produzir um eterno peso de glória. Apenas nesta vida podemos aprender que Deus é o Deus de todo a consolação, o Deus de todo encorajamento, e o Deus que pode nos dar a graça para passar pelas mais difíceis circunstâncias. Não podemos aprender tais coisas no céu, pois não haverá nada lá pelo que precisaremos de consolação ou encorajamento. Podemos ter tais experiências apenas aqui embaixo, e ainda assim o peso de glória aqui operado por nós é eterno.

Vamos fechar com uma citação de C. H. Mackintosh:
"Observe aquela silhueta arqueada e atrofiada, aquele corpo arruinado pela dor e exaurido pelos anos de sofrimento pungente. É o corpo de um santo. Quão humilhante é vê-lo assim! Sim, mas espere um pouco. Basta apenas trombeta soar e, em um instante, aquela estrutura pobre e decadente será transformada e feita semelhante ao corpo glorificado do Senhor que virá.

"E ali, naquele sanatório para doentes mentais, está um pobre paciente. Ele está ali há anos. É um santo de Deus. Quão misterioso é isso! É verdade, não podemos compreender tal mistério, está além do estreito alcance de nossa compreensão. Mas assim é, aquele pobre paciente é um santo de Deus e herdeiro da glória. Ele também ouvirá a voz do arcanjo e a trombeta de Deus, e deixará sua enfermidade para trás para sempre, ao subir para o céu, em seu corpo glorificado, para encontrar o Seu Senhor que vem. Oh! Que momento radiante! Quantos leitos de enfermos ficarão vagos então! Que mudanças maravilhosas acontecerão! Como o coração é cativado por tal pensamento e anseia cantar, em coro, o belo hino:

"Cristo, o Senhor, sim, voltará,
Ninguém O aguardará em vão:
Então Sua glória mostrará:
Com Ele os santos estarão.

"Quando o arcanjo a voz soar,
Os que já dormem ouvirão,
E, ressurretos, vão cantar
Louvores, em adoração.

"'Este é o nosso Redentor!'
As hostes todas clamarão:
'A Ele seja o louvor
E universal adoração!'"

(Hino #266 do Hinário Little Flock)

{* Mackintosh, C. H., "A Vinda do Senhor". Acervo Digital Cristão, pp. 28-29. Disponível em http://acervodigitalcristao.com.br/livros/a-vinda-do-senhor/ }

Medicação

Já aludimos ao uso de medicamentos em nossa discussão sobre o psiquiatra. Notamos que houve uma tremenda proliferação de drogas (remédios) psicotrópicas durante os últimos cinquenta anos. Vimos que, apesar de não entendermos totalmente o modo de ação da maior parte das drogas psicotrópicas, ainda assim eles fizeram uma grande diferença no tratamento da doença mental. Kay Redfield Jamison, uma autora com distúrbio bipolar de cujo livro já citamos anteriormente, faz a seguinte declaração sobre ela mesma e sua condição:
"Eu muitas vezes me perguntava se, dada a escolha, eu escolheria ter a doença maníaco-depressiva. Se o lítio não estivesse disponível para mim, ou não funcionasse para mim, a resposta seria um simples 'não' -- e seria uma resposta atormentada pelo terror. Mas o lítio funciona para mim, e, portanto, suponho que eu possa falar sobre essa questão."*
{* Jamison, Kay Redfield, An Unquiet Mind. (Alfred A. Knopf, New York, 1995), pg. 217}

Notamos que, antes do desenvolvimento das drogas psicotrópicas, a maioria dos pacientes com doença mental séria passavam sua vida em instituições, virtualmente prisioneiros de sua condição. A descoberta das drogas que podem ajudar os indivíduos a controlar seu comportamento têm sido um fator importante na habilitação dessas pessoas para viverem e exercerem, em geral, suas funções no mundo. 

Nos apressamos em acrescentar que as drogas não foram o único fator nessa mudança. Juntamente com o desenvolvimento das drogas psicotrópicas, houve uma atitude de mudança no que diz respeito à doença mental. Tais coisas como a apreciação dos efeitos regressivos das instituições, um aumento da consciência social, e o aumento da comunidade psiquiátrica, ajudaram a facilitar a integração do paciente doente mental de volta à sociedade. No entanto, continua claro que, sem o uso de drogas psicotrópicas, muitas dessas pessoas veriam ser impossível exercer suas funções fora de uma instituição por qualquer período de tempo.

Qual, então, deveria ser a atitude do crente no que diz respeito a tais medicamentos? Alguns sentem que, uma vez que o Senhor somente pode curar, e uma vez que Deus disse: "A Minha graça te basta", então deveríamos deixar de lado o uso de medicamentos, contando com o Senhor e Sua graça somente. Outros podem sentir que, uma vez que já tomaram medicamentos, eles pode confiar neles e não precisam se preocupar sobre qualquer possível dimensão espiritual em sua doença. Posso sugerir novamente que ambos os extremos estão errados?

No Antigo Testamento, quando o rei Ezequias estava seriamente doente, Deus enviou o profeta Isaías a ele com a mensagem: "Eis que eu te sararei; ao terceiro dia subirás à casa do Senhor" (2 Reis 20:5). Claramente, foi o poder do Senhor que realizou a cura, ainda que, ao mesmo tempo, Isaías dissera a Ezequias: "Tomai uma pasta de figos. E a tomaram, e a puseram sobre a chaga; e ele sarou" (2 Reis 20:7). Novamente, no Novo Testamento, Paulo pôde pedir a Timóteo: "Não bebas mais água só, mas usa de um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades" (1 Timóteo 5:23).

Em ambos esses casos, é definitivamente o Senhor que está no controle de nosso corpos e nossas enfermidades, como evidenciado em Suas palavras a Ezequias através do profeta: "Eu te sararei". Do mesmo modo, em ambos os casos, foi dada instrução para usarem de meios disponíveis para tratar o problema. Assim, hoje, deveríamos confiar no Senhor e olharmos primeiramente para Ele para nossas doenças mentais, assim como físicas, para que finalmente Ele possa nos ajudar a descobrirmos as várias causas, e a razão pela qual Ele as permitiu. No entanto, não é errado usar esses remédios que Deus permitiu que o homem descobrisse, como vemos nos exemplos que mencionamos.

Há alguns queridos crentes que precisam de medicamento para manterem-se mentalmente "em equilíbrio", assim como um epilético precisa de medicamentos para evitar que tenha convulsões. Assim também, aqueles que se encontram em dificuldades sérias sem uma dose regular de uma droga psicotrópica que os ajude a exercer normalmente suas funções deveriam aceitá-la, e serem gratos de que elas lhe estão disponíveis. Não é um sinal de fraqueza ou de falta de espiritualidade maior tomar esses remédios do que é alguém com insuficiência cardíaca tomar seus digitálicos e diuréticos (pílula de água).

Por outro lado, sabedoria é necessária aqui, pois, às vezes, nós, como crentes, podemos usar a medicação como uma muleta, quando o que realmente é necessário é que lidemos com a raiz do problema. Certamente cada indivíduo e cada doença mental é diferente, e deve ser avaliada e tratada diante do Senhor, levando em consideração cada aspecto.

Psicólogo ou Pastor

Na essência, afinal, se tivermos dificuldades que não são tão férias a ponto de precisarmos de ajuda médica, então é melhor nos colocarmos de joelhos com a Palavra de Deus diante de nós, e pedir ao Senhor por Sua ajuda para superar a dificuldade. Se for necessária mais ajuda, talvez um crente piedoso, disposto a ouvir e oferecer sugestões, possa ser encontrado. Certamente um psicólogo que não seja crente teria grande dificuldade em avaliar, por exemplo, uma família cristã disfuncional, e dar conselhos adequados. Embora ele possa ser capaz de fazer boas observações, seu tratamento seria sempre baseado em sabedoria humana, e não na Palavra de Deus. Certamente esta é uma área onde nós, como crentes, tenhamos talvez falhado muito seriamente, pois, como já discutimos, há uma grande necessidade de pastores no verdadeiro sentido da palavra. Quão grande necessidade há daqueles que adentram nos problemas e dificuldades de outros crentes, demonstrando simpatia e compaixão, e ainda sendo capazes de oferecer uma "palavra oportuna"!

Em Efésios 4:11, pastores e mestres (doutores) são colocados juntos, demonstrando que as características de ambos são desejáveis na mesma pessoa. Alguém não pode ser um mestre eficaz a menos que saiba como dar aconselhamento sólido e bíblico. Tais indivíduos são muito raros, mas muito necessários na igreja hoje. Se mais crentes com corações de pastor estivessem disponíveis para fazer essa que, muitas vezes, é uma obra pela qual não se recebe a devida gratidão, talvez não veríamos tantos santos tendendo a procurar psicólogos e outros profissionais.

Consideremos, agora, um aspecto final da doença mental e maiores detalhes.

domingo, 14 de janeiro de 2018

Psicologia

Mais uma vez, abordamos o assunto com certa hesitação por causa das fortes opiniões mantidas por muitos crentes sobre o assunto. Livros como A Sedução do Cristianismo, de Dave Hunt e T. A. McMahon, e Psychoheresy ("Psicoheresia", não disponível em língua portuguesa), de Martin e Deidre Bobgan são implacáveis em sua condenação da psicologia como é praticada hoje, e alertam os crentes contra ela nos termos mais fortes possíveis. Tendo lido ambos os livros e outros como eles, tenho a dizer que esses alertas são necessários, pois algumas coisas que eles falam são verdadeiras. Sem dúvida muito do criticismo deles decorre do fato de que a psicologia moderna tende a adotar uma visão humanística e de "nova era" do homem e de seu comportamento, e deixa de lado a Palavra de Deus como a única verdadeira autoridade nas questões morais e espirituais que são abordadas. Tendo dito isto, é também minha opinião que muito desse criticismo, particularmente do ponto de vista dos Bobgans em Psychoheresy, é desequilibrado e enganoso. Ao procurar chamar a atenção para uma séria tendência em direção ao pensamento errôneo entre os crentes, eles mesmo caíram no erro e no pensamento distorcido. Em seu esforço de expor o pensamento falho por trás de muitas coisas na psicologia moderna, eles reuniram uma série de citações e opiniões negativas que nem sempre podem ser suportadas pelas Escrituras. Na afirmações deles de que Cristo é a resposta final para os problemas da vida, eles estão corretos. Em sua tentativa de considerar a maioria desses problemas como pecado voluntário, eu creio que eles foram longe demais. Quando eles negam que existam coisas como pensamentos e motivos inconscientes, eles estão errados, pois a Palavra de Deus claramente reconhece que pode haver pensamentos e motivos inconscientes que governam nosso comportamento. Eliú pôde aconselhar Jó a orar: "O que não vejo, ensina-me tu" (Jó 34:32). Ao reconhecer a possibilidade do pecado operar inconscientemente em si, Davi pôde dizer ao Senhor: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece os meus pensamentos" (Salmos 139:23). Em outro lugar, ele pôde dizer: "Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos" (Salmos 19:12). Novamente, quando eles sugerem que o crente é chamado para estar ocupado com Cristo em vez das dores que ele experimentou no passado, eles estão certos. Quando eles dizem que feridas emocionais passadas realmente não têm influência em nosso comportamento no presente, eles estão errados. Ao procurar expor um erro, eles próprios caíram no erro do lado oposto. É triste dizer, mas o homem é propenso a fazer isso em muitas áreas.

Tudo isso, então, levanta a questão: "A psicologia está sempre totalmente errada?" Por definição, a psicologia é o estudo do comportamento humano. Isto inclui coisas como testes de Q.I., avaliação de diversos tipos de personalidades, reações de indivíduos a diversas forças em seu ambiente, e as diversas maneiras pelas quais o comportamento pode ser modificado. O crente pode prontamente ver que a psicologia não pode ser vista como uma ciência do mesmo modo que, por exemplo, o estudo da química, pois envolve uma dimensão espiritual assim como uma dimensão natural. Aqui novamente temos uma área em que as Escrituras devem ser a autoridade final. Nas Escrituras, Deus explica a natureza do homem e seu comportamento, enquanto na psicologia, o homem observa padrões, faz suposições, e talvez aprende algo, mas de uma maneira limitada. No entanto, a psicologia nunca chegará à completa verdade sobre a questão, pois esta requer a revelação divina. Nas Escrituras, Deus afirma as relações que Ele estabeleceu e o comportamento moral que é requerido que o homem possua: na psicologia, o homem tenta explicar o comportamento sem uma base determinada de moralidade. Nas Escrituras, Deus revela o que fará o homem feliz, e por quê; na psicologia o homem procura descobrir o que fará o homem feliz, e falha. As Escrituras revelam que a causa raiz da maioria dos problemas comportamentais do homem é o pecado e suas consequências; a psicologia, em geral, não usa a palavra "pecado" em seu vocabulário.

Por outro lado, é, às vezes, útil entender por que um indivíduo reage de uma determinada maneira, mesmo que de um ponto de vista natural. Por exemplo, suponha que uma adolescente fuja de casa. Muitos fatores podem estar envolvidos, e precisamos deixar claro que não estamos de forma alguma justificando sua fuga. Pode haver mais de uma razão dela ter escolhido sair de casa, mas sabemos que em muitos casos é por que sua mãe abdicou de seu papel adequado como cuidadora e dona de casa, forçando, assim, a garota a tomar uma responsabilidade para a qual ela não está pronta, tornando-a ressentida. Chame isso de psicologia ou do que você quiser chamar, mas um entendimento desse modo de comportamento é, às vezes, útil ao lidar com a situação, e para auxiliar aqueles diretamente envolvidos. Muitos outros exemplos poderiam ser dados de comportamento que é, afinal, pecaminoso, mas que tem suas raízes em várias forças que agiram sobre o indivíduo. Isto de modo algum desculpa o pecado, mas talvez forneça uma base para o auxílio no alívio dos fatores que possam ter influenciado o mau comportamento.

Sugerimos que não é a psicologia, em si mesma, que é tão errada, mas sim a base na qual o comportamento é interpretado e tratado. Não é errado reconhecer certos padrões de comportamento que ocorrem como resultado de determinados eventos e relacionamentos que podem ter moldado o indivíduo, mas sugerir que os pensamentos do homem deveriam tomar o lugar das Escrituras como o remédio é um erro sério. Quando o humanismo secular e o pensamento da nova era são a base sobre a qual o comportamento humano é abordado, o homem torna-se o foco de seu próprio pensamento, e Deus é deixado de lado. O resultado é, por um lado, uma irresponsabilidade moral e uma desculpa para a conduta pecaminosa, enquanto por outro lado o tratamento de tal comportamento tende a ser baseado na autoajuda e no conceito de autoestima. Esta assim chamada liberdade de pensamento não está vinculada a qualquer verdade, nem conhece a verdade, e põe em dúvida toda a verdade. Tal abordagem põe o homem no centro das coisas, e é finalmente destrutiva, pois a incredulidade produzida pela confiança no homem o força a voltar-se para a superstição. Infelizmente, a psicologia moderna é tão crivada dessas ideias que é difícil separar as duas coisas.

Considerações sobre o Tratamento

Onde tudo isso nos deixa então? Mais uma vez somos lançados de volta para o Próprio Senhor, que sozinho pode dar sabedoria em qualquer ocasião. Assim como às vezes precisamos de um médico para doenças físicas, assim podemos precisar de um psiquiatra para uma doença mental, particularmente se a medicação for necessária. Escolhemos cuidadosamente um médico para nossas necessidades físicas, e devemos ser ainda mais cuidadosos ao escolhermos um psiquiatra. De quanta ajuda é quando é possível encontrar alguém que conhece o Senhor, e que assim está preparado para tratar o paciente em todos os sentidos. Mas nem mesmo o melhor dos psiquiatras é capaz de tomar o lugar do pastor de verdadeiro coração.

É impressionante que Carl Jung reconheça que coisas como fé, esperança e amor sejam necessárias para a cura das pessoas, e que ele ainda reconheça que nenhum sistema de pensamento humano poderia supri-las. Apenas ao conhecer o Senhor Jesus como Salvador e ao andar com Ele essas coisas podem ser uma realidade em nossa vida. Devemos também ter em mente que, enquanto outros podem ser úteis ao indicar alguém na direção correta e talvez dando-lhe discernimento quando à natureza da dificuldade, no final apenas o próprio indivíduo pode realmente lidar com sua necessidade espiritual na presença do Senhor.

Consideremos agora uma disciplina aliada, mas bem diferente, que é a psicologia.

Remédios e Moralidade

Talvez alguns perguntarão: "Por que então alguns crentes tem tais sentimentos negativos sobre os psiquiatras, e são tão fortemente contra seu papel na vida dos cristãos?" Primeiramente, devemos nos lembrar do que foi dito anteriormente, a saber, que drogas psicotrópicas não possuem efeito moral. Elas capacitam o cérebro a funcionar de modo mais normal, mas não podem melhorar nada além do que é físico (o cérebro). Lidaremos mais a fundo com este assunto em uma seção subsequente. Em segundo lugar, enquanto o psiquiatra pode certamente fornecer cuidados de apoio e de psicoterapia, ele não pode lidar com o aspecto espiritual da doença mental a menos que ele próprio seja um crente no Senhor Jesus Cristo. 

Enquanto a medicação e a psicoterapia humana possa fornecer algum alívio temporário, elas normalmente não fornecerão uma solução permanente para o problema, porque há questões espirituais que precisam ser abordadas. O comportamento pode ser explicado e talvez justificado como sendo a manifestação da doença (Enquanto os psiquiatras raramente referem-se a um certo comportamento como pecado, eles costumam dizer que "isso é apenas comportamento", o que significa que é uma ação voluntária, e não uma manifestação de uma doença mental em particular). Certos comportamentos podem ser reconhecidos como prejudiciais, mas o ponto de referência tenderá a ser o homem. Assim, o comportamento pode ser considerado prejudicial para ele próprio ou para os outros, mas geralmente não é visto como um pecado contra Deus. Finalmente, deve-se reconhecer que o relacionamento entre o paciente e o psiquiatra é, por necessidade, muito íntimo. As informações mais privadas e detalhes delicados da vida da pessoa podem ter de ser expostos, e, como tal, o psiquiatra se encontra em uma posição de ter que direcionar a terapia e talvez moldar o pensamento do paciente de um modo que poucos outros teriam a oportunidade de fazer. A maioria dos psiquiatras, reconhecendo a importância das convicções religiosas de um paciente, normalmente não dariam conselhos contrários a elas a menos que percebessem que tais crenças estivessem no caminho de uma resolução do problema. É fácil ver, no entanto, que tal opinião seria baseada na própria percepção que o psiquiatra tem da situação, e se for baseada na sabedoria do homem e não na de Deus, pode muito bem vir a ser contrária às Escrituras. Devemos nos lembrar que "o temor do Senhor é o princípio do conhecimento" (Provérbios 1:7), e isso em qualquer assunto moral e espiritual: nosso pensamento é errado a menos que seja firmado na Palavra de Deus. Que possamos sempre nos lembrar da afirmação em Isaías 8:20: "Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles". Se o homem deve ter uma verdadeira compreensão de si mesmo, ele deve começar com respeito ao Senhor, e reconhecendo que o Senhor o fez, e é a quem ele é responsável.

Assim não devemos confiar na sabedoria do homem, seja por meio de drogas ou psicoterapia, para curar problemas espirituais. Em vez disso, eles devem ser encarados na presença do Senhor. Até mesmo homens incrédulos reconheceram isso. Considere as seguintes observações do Dr. Carl Jung, um contemporâneo de Sigmund Freud:
"Eu gostaria de chamar a atenção para os seguintes fatos. Durante os últimos trinta anos, pessoas de todos os países civilizados da terra me consultaram. Eu tratei várias centenas de pacientes... Dentre todos os meus paciente já na segunda metade da vida -- ou seja, com mais de trinta e cinco anos de idade -- não houve um cujo problema, em última instância, não fosse o de não ter encontrado uma visão religiosa da vida...
"Parece-me que, lado a lado com o declínio da vida religiosa, as neuroses crescem visivelmente com maior frequência...
"O paciente procura por algo que tomará posse dele e dará significado e forma à confusão de sua mente neurótica. O médico seria páreo para a tarefa? Para começar, ele provavelmente entregará seu paciente ao clero ou ao filósofo, ou o abandonará à perplexidade que é o tom especial de nossos dias... O pensamento humano não pode conceber qualquer sistema ou verdade final que possa dar ao paciente o que ele necessita de modo a viver: que é fé, esperança, amor e discernimento..."* (grifos são do autor deste livro)
{* Jung, Carl G., Modern Man in Search of a Soul. (Harcourt, Brace & Co., New York, 1933), pg. 260-262}

Carl Jung claramente reconheceu a necessidade religiosa de muitos de seus pacientes, e de fato, dentro da faixa etária que ele menciona, todos eles evidentemente sofriam de uma falta que nenhum homem ímpio poderia suprir. É possível que o psiquiatra seja um homem mundano sem entendimento da nova vida do crente em Cristo, ou pior ainda, ele pode até mesmo possuir sentimentos ateístas e anticristãos, como Sigmund Freud, a quem já mencionamos. Em tais casos, o psiquiatra (talvez com boas intenções) pode vir a dar conselhos e fazer sugestões que são contrárias à Palavra de Deus, e que, se seguidas, podem causar verdadeiros danos ao cristão. O pensamento humanístico que coloca o "eu" no centro de nossos pensamentos permeou nosso mundo nos últimos quarenta anos, e precisamos estar em guarda contra isto. Que possamos estar mais familiarizados com a Palavra de Deus, que coloca Cristo no centro de todas as coisas!

domingo, 7 de janeiro de 2018

Administrando Remédios

Há muitos cristãos sérios que foram grandemente ajudados após consultarem um psiquiatra, e que agora encontram-se capazes de levar vidas normais como resultado de um programa de tratamento cuidadosamente monitorado que pode incluir medicamentos psicotrópicos. Até mesmo as visitas feitas pelo doutor de tempos em tempos pode fornecer apoio de alguém que conhece e entende, que é capaz de discutir e aconselhar, e se necessário manipular medicamentos que atinjam o efeito adequado. Assim como, por exemplo, o diabético precisa de insulina ou medicamento oral monitorado e ajustado periodicamente, assim também o indivíduo com uma doença mental de longo prazo precisa de alguém que desempenha esse papel. O psiquiatra é necessário em muitos casos, pelo menos para iniciar tudo isso. Às vezes um médico da família pode fazer alguns desses diagnósticos e prescrições, e podem certamente monitorar um paciente quando um regime e tratamento foi estabelecido.

Drogas Psicotrópicas

Além disso, houve grandes passos feitos, durante os últimos cinquenta anos, na pesquisa e desenvolvimento de drogas psicotrópicas. Começando com a descoberta do lítio e da clorpromazina na década de 1950, os últimos cinquenta anos têm testemunhado o desenvolvimento de uma miríade de novas drogas que revolucionaram o tratamento de distúrbios mentais. Antes da década de 1950, a maioria dos indivíduos seriamente perturbados tinham de ser tratados em instituições, às vezes com portas trancadas, janelas com barras, e, algumas vezes, com restrições físicas. (O tratamento do esquizofrênico paranoico na seção "Esquizofrenia e outras Condições Psicóticas" é um exemplo disso). Hoje em dia a maioria das admissões psiquiátricas são breves, com um rápido retorno à vida em comunidade. Muito dessa mudança é o resultado de melhores drogas para o tratamento de doenças mentais, e aqui o psiquiatra é necessário, pois apenas ele saberá como prescrever e supervisionar o uso dessas drogas. É fácil perceber que tais medicamentos devem ser prescritos e administrados por um médico capaz de apreciar as indicações para eles, assim como a dosagem adequada, os efeitos colaterais, e a interação com outras drogas. Do mesmo modo, alguém que é treinado a reconhecer e classificar distúrbios mentais pode diagnosticar melhor um problema em particular e iniciar o tratamento. 

Como um médico, o psiquiatra é treinado para investigar as variadas causas dos sintomas que ele enxerga, e após juntar as informações, decidir que formas de tratamento serão úteis no caso particular. Ele é treinado para reconhecer diferentes forças na vida do indivíduo, e a integrá-las com a hereditariedade, personalidade, experiências e crenças da pessoa. Então ele tenta mapear um regime de tratamento que pode incluir terapia de apoio e drogas, assim como ajudar a dar ao paciente uma melhor visão sobre o que ele pode fazer para aliviar seus problemas.

Reconhecendo Sintomas

Como muitas coisas na vida cristã, o equilíbrio é necessário em nosso pensamento, assim como a sabedoria que vem ao termos a mente do Senhor. Vimos que o espírito, alma e cérebro humano podem ser perturbados por fatores que vão além do nosso controle, e que algumas pessoas possuem uma tendência constitucional a desenvolver a doença mental. Padrões anormais de pensamento e comportamento podem ser estudados, categorizados, e então reconhecidos no indivíduo pelo sintoma particular que ele apresenta. Tais coisas como esquizofrenia, transtornos de ansiedade, transtorno bipolar e transtornos de personalidade podem ser reconhecidos e rotulados quando os sintomas próprios se apresentam. Os nomes aplicados a tais distúrbios podem variar de cultura para cultura, e a causa atribuída a diferentes coisas, mas o padrão geral da doença mental é muito similar em várias partes do mundo.

No que diz respeito ao diagnóstico, a psiquiatria e a psicologia não podem ir além da observação e classificação de tais padrões de comportamento, além de talvez associá-los, em alguns casos, a fatores no ambiente do indivíduo, ou reconhecer que um desequilíbrio químico particular no cérebro pode ser uma causa contributiva. No entanto, é bom ser capaz de rotular o problema do paciente, para ser capaz de reconhecer o padrão daquela doença em particular, e para ter alguma ideia da severidade disso. O psiquiatra pode ser útil em tudo isso.

O Psiquiatra

A mera menção da palavra "psiquiatra" evoca reações variadas e às vezes muito emocionais da parte dos crentes. Alguns crentes, especialmente aqueles que já tiveram um amado ou bom amigo que foi beneficiado pelo tratamento psiquiátrico, respondem muito positivamente. Outros, que associam a profissão às teorias de pessoas como Sigmund Freud e Carl Jung e com todas as demais ideias anticristãs recuam com horror de que qualquer crente pudesse até mesmo considerar ser tratado por um deles. É claro que existem diversas posições entre essas duas visões polarizadas.

Levando Cargas e Sendo Sanguessugas

Ao lidarmos com esse levar de cargas, devemos distinguir entre levar as cargas uns dos outros e permitir que as pessoas se tornem "sanguessugas". A palavra "carga" em Gálatas 6:2 carrega o pensamento de um estresse ou peso intolerável e pesado que se requer ajuda para ser levado, enquanto a palavra traduzida como "carga" no versículo 5 do mesmo capítulo é uma palavra diferente, tendo o pensamento daquilo que é a responsabilidade normal e própria do indivíduo. Há coisas na vida que são propriamente nossa própria responsabilidade, e que não deveriam ser empurradas para os outros. Uma sanguessuga suga continuamente a força de outro, e nunca dá nada em troca. Alguns crentes não estão dispostos a pagar o preço da oração pessoal e da disciplina espiritual de modo a manter seu bem-estar emocional e espiritual, e assim acabam continuamente se aproveitando da força dos outros. Tal comportamento representa um tomar que impede o dar, e finalmente é algo da carne. Ocasionalmente tal comportamento pode ter que ser repreendido. Mas, na maioria das vezes, aqueles com doença mental serão capazes de exercer normalmente suas funções diárias, embora possam precisar de ajuda de tempos em tempos. É um privilégio ser capaz de oferecer tal ajuda!

Podemos resumir nossas observações como segue. Da parte daquele que sofre da doença mental, ele deve estar disposto a admitir o problema, assim como no caso de doença física. Aqueles que se negam a admitir sua doença não serão capazes de ser muito ajudados. Uma vez que o problema é admitido, o indivíduo deve estar disposto a aceitar auxílio, percebendo que Deus proveu-lhe esse auxílio. É gratificante para nosso coração natural dizer: "Eu posso lidar com isso sozinho; eu não preciso de ajuda". Mas se Deus proveu auxílio para nós, que o aceitemos. Finalmente, o indivíduo deve estar disposto a ajudar a si mesmo. Auxílio pode ser necessário, mas ser capaz de lidar com isso com o mínimo de ajuda possível deveria ser finalmente o objetivo. É claro, existem doenças mentais severas nas quais isso pode nem sempre ser possível, mas deveria sempre ser esse o objetivo.

Falamos sobre terapia para a alma e espírito; agora falaremos um pouco sobre a terapia para o corpo -- o cérebro.