sábado, 28 de outubro de 2017

As Circunstâncias e o Pecado Agindo sobre Nós

Já percebemos que as circunstâncias e sua influência em nosso estado mental são mencionados mais do que uma vez na Palavra de Deus. O Senhor predisse que, como resultado da desobediência, Israel sofreria muito em Sua mão. Um dos sofrimentos que eles experimentariam é mencionado em Deuteronômio 28:34, a saber, "E enlouquecerás com o que vires com os teus olhos". A palavra aqui tem o pensamento de delirar através da insanidade, neste caso como resultado de verem os terríveis juízos que Deus traria sobre Seu povo. Do mesmo modo, lemos em Eclesiastes 7:7 que "a opressão faria endoidecer até ao sábio". Muitos indivíduos conseguem levar a vida razoavelmente bem se as coisas correrem de forma suave e pacífica. No entanto, quando problemas e dificuldades surgem, muitas vezes eles se veem inclinados à beira de padrões de pensamento e comportamentos anormais. Tais coisas como dor física crônica, falecimento, perda de emprego, crises familiares, e outras circunstâncias estressantes, podem todas afetar nosso estado mental. A esta lista devemos acrescentar também causas menos comuns como a guerra, tortura, e a contínua falta de sono adequado (ao mencionarmos a falta de sono, nos referimos à privação de sono como resultado de circunstâncias estressantes). Tudo isso são efeitos externos -- vindos de fora de nós mesmos -- do pecado: o pecado que distorceu todo o padrão de vida neste mundo.

Se alguém sofre de dor física severa e crônica por mais de um mês, ele começará, humanamente falando, a desenvolver depressão. A perda da fonte de renda, ou mais sério ainda, a morte de uma pessoa amada, também pode precipitar um surto de depressão. Aqueles com distúrbios mentais mais sérios como a esquizofrenia podem, às vezes, conseguir seguir vidas relativamente normais se a maior parte do estresse for removido, mas sua doença é grandemente agravada pelas circunstâncias. Indivíduos sujeitos aos horrores da guerra e/ou à tortura frequentemente sofrem tais coisas como trauma pós-guerra e até mesmo mudanças de personalidade no longo prazo. Tudo isso é às vezes chamado de distúrbio de estresse pós-traumático. Quanto menos resiliente e quanto maior a fragilidade emocional, mais facilmente as circunstâncias adversas podem levar a pensamentos e comportamentos anormais óbvios.

Tudo isso aumentou muito em nosso mundo moderno. Na época em que este livro foi escrito, coisas como a depressão e casos sérios de ansiedade tinham aumentado dramaticamente no Canadá durante os últimos vinte anos. Distúrbios com um componente psicológico, tais como a fibromialgia e síndrome de fadiga crônica, têm se tornado cada vez mais comuns. Muitas vezes o estresse na vida de uma pessoa leva ao sono perturbado e finalmente à privação crônica do sono. Isto resulta em fadiga crônica, ansiedade aumentada, dor física, e, finalmente, depressão. Toda a síndrome torna-se um círculo vicioso, uma vez que a depressão e a ansiedade levam a mais estresse. Além disso, devemos perceber que o estresse pode ser devido à nossa própria vontade, onde nosso orgulho nos empurra para fazermos as coisas do nosso próprio jeito. A frustração que ocorre quando nossa vontade é frustrada pode produzir estresse e, finalmente, todos os problemas que temos mencionado. Alguém sabiamente observou que "as circunstâncias não nos dariam problemas se elas não encontrassem algo em nós que é contrário a Deus; elas apenas sussurrariam levemente como a brisa"*. Aqui novamente estamos em uma área onde diferentes causas de doença mental se sobrepõem, tornando o assunto bastante complexo.

{* Darby, J. N., God’s Rest, the Saint’s Rest. (The Collected Writings of J. N. Darby, Vol. 16, Stow Hill Ed.), pg. 117 }

sábado, 14 de outubro de 2017

Outros Vícios

Está além do escopo deste livro tratarmos em detalhes sobre cada tipo de vício, mas é interessante fazermos alguns comentários antes de prosseguirmos. Primeiramente, devemos nos lembrar que os vícios podem incluir muitas coisas em nossas vidas. Paulo diz aos coríntios: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma" (1 Coríntios 6:12). As Escrituras mencionam tais coisas como imoralidade sexual, o abuso do álcool, e a glutonaria, mas podemos nos deixar dominar por muitas outras coisas -- esportes, exercício físico, jogos de azar, cafeína -- e até mesmo coisas como a tomada de riscos. Devemos reconhecer que os desejos indisciplinados que dirigem os vícios são encontrados em cada coração humano. O Senhor Jesus disse: "Todo aquele que comete pecado é servo do pecado" (João 8:34). 

Sem dúvida, a tendência a um vício em particular é influenciada tanto pela genética quanto por várias influências em nossa educação, mas então nossa vontade entra em cena, pois gostamos de pecar. Então, quando nos entregamos repetidamente a um comportamento em particular, nos tornamos escravizados de modo que isso nos controla. Assim temos atos propositais de pecado combinados com a natureza controladora dos vícios. De fato, todo pecado age assim, mas os vícios tornam isso mais aparente. Se negamos a escravidão dos vícios, então precisamos assumir que o indivíduo tem poder para mudar a si mesmo. Isto não é verdade, pois a vontade do homem não tem poder algum contra o pecado sem o poder da graça de Deus. Por outro lado, se negamos o pecado voluntário envolvido nos vícios, então acabamos nos permitindo a colocar a culpa fora de nós mesmos, assim como fez o político mencionado anteriormente, que dava a desculpa de que seu tráfico de drogas era pelo fato de que seu cérebro estava bagunçado. A realidade é que uma tendência em nossos corações -- "o pecado que tão de perto nos rodeia" (Hebreus 12:1) -- encontra sua expressão nas escolhas pecaminosas e acaba num comportamento controlador que lembra uma doença. "Havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte" (Tiago 1:15).

Consideremos agora o terceiro aspecto do pecado e suas consequências: as circunstâncias e o pecado agindo em nós do lado de fora.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Vícios -- Álcool e Abuso de Substâncias

Conectado ao pecado que permitimos em nossas vidas há também a questão do álcool e outros abusos de substâncias. Já o mencionamos em conexão com causas físicas da doença mental, pois o álcool e outras drogas tem um efeito físico no cérebro. Existem substâncias químicas (drogas) que, tomadas adequadamente e sob supervisão médica, afetam o cérebro de modo benéfico. Outras (tais como a cocaína ou a heroína) fornecem uma experiência prazerosa temporária, mas são acompanhadas de sérios efeitos prejudiciais.

A ingestão de tais substâncias é quase sempre feita com o pleno conhecimento de que haverá tanto consequências prazerosas quanto dolorosas. Como em outras causas de distúrbios mentais, reconhecemos que há aqueles que, por causa de sua composição mental e física, são mais facilmente propensos a tornarem-se viciados em drogas, especialmente o álcool. Uma vez que começam a abusar da substância envolvida, o indivíduo pode tornar-se viciado, talvez tanto fisicamente quanto psicologicamente, e pode encontrar dificuldade em parar com o hábito. Sintomas de doença mental são muitas vezes produzidas tanto no curto quanto no longo prazo. Todos já conhecemos o triste comportamento de alguém inebriado pelo excesso de álcool, mas o abuso crônico pode resultar em doença mental devido a dano cerebral permanente (psicose de Korsakoff).  As Escrituras nos alertam sobre tudo isso, e Salomão nos diz nos Provérbios:
"Para quem são os ais? Para quem os pesares? Para quem as pelejas? Para quem as queixas? Para quem as feridas sem causa? E para quem os olhos vermelhos?Para os que se demoram perto do vinho...  
"Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. 
"No fim, picará como a cobra, e como o basilisco morderá. 
"Os teus olhos olharão para as mulheres estranhas, e o teu coração falará perversidades." (Provérbios 23:29-33)

A Responsabilidade Moral e a Doença Mental

Devemos nos lembrar de um princípio muito importante, a saber, que Deus sempre nos considera responsáveis pelos motivos de nosso comportamento. Uma criança pequena pode ser mais suscetível a se comportar mal porque não tirou uma boa soneca à tarde, mas pais sábios não aceitarão totalmente tal desculpa para o mau comportamento, mesmo que deem um crédito à falta de uma soneca. Do mesmo modo nós também não podemos jogar a culpa de nosso mau comportamento totalmente sobre uma doença física, embora esta possa tornar mais difícil para nós fazer o que é correto. As Escrituras nos dizem que "o Espírito ajuda as nossas fraquezas" (Romanos 8:26), e isso inclui tais coisas como o transtorno bipolar ou problemas emocionais decorrentes de lesões na cabeça. Além disso, uma doença física, independente de afetar o cérebro ou alguma outra parte do corpo, não pode nos prevenir de seguirmos o Senhor e O buscarmos por ajuda nessa situação. Paulo podia dizer aos coríntios: "Ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia" (2 Coríntios 4:16). Da mesma forma, o Próprio Senhor podia dizer a Paulo: "A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Coríntios 12:9). Enquanto certamente não é fácil lidar com as capacidades naturais distorcidas, reduzidas ou até mesmo ausentes, ainda assim é uma oportunidade para nós de reconhecermos nossa fraqueza e buscarmos o Senhor para nos dar força e ajuda. Muitos queridos crentes descobriram a verdade disso e tornaram-se vencedores e testemunhas brilhantes para Cristo, mesmo com tais deficiências.

Ao fazermos essas declarações devemos, é claro, distinguir entre o comportamento anormal e o pecaminoso. Como resultado da deficiência mental ou doença mental, um indivíduo pode exibir comportamento anormal que é característico daquela doença em particular. Por exemplo, as fases maníaco-depressivas do transtorno bipolar estão muito além do controle do indivíduo, e causarão certos tipos de comportamento que ele não consegue melhorar. A falta de memória e a incapacidade de raciocinar que acompanham o mal de Alzheimer são características dessa doença, e não há o que possa ser feito. No entanto, o comportamento pecaminoso (aquele que é moralmente errado) é algo que temos controle sobre, pelo menos quanto ao motivo, embora as distorções de nosso espírito, alma e corpo por causa da queda do homem possam tornar mais difícil para nós controlar tais tendências. Sem dúvida há, às vezes, uma linha tênue entre o que é anormal por causa da doença mental, e o que é pecado por causa da nossa vontade e motivos errados que estão envolvidos. O assunto do pecado voluntário e de nossa responsabilidade perante Deus traz-nos à questão dos vícios, os quais trataremos melhor a seguir.

O Pecado Que Permitimos em Nossa Vida -- Pecado Voluntário

Já vimos que todos nascemos membros de uma raça caída, e, como tais, somos sujeitos aos efeitos do pecado em nosso espírito, alma e corpo. Além disso, uma vez que o pecado entrou neste mundo temos também uma natureza pecaminosa que as Escrituras chamam de "a carne". As Escrituras usam essa expressão para descrever o "eu" pecaminoso do homem que não pode agradar a Deus (Isto também é explicado em mais detalhes na seção sobre "A Natureza do Homem"*). No Novo Testamento, especialmente nas epístolas de Paulo, essa expressão é usada para se referir à condição moral do homem sem Deus e aos princípios de vontade própria que governam as ações do homem natural. Quando permitimos que nossa natureza pecaminosa, "a carne", aja, ela pode certamente contribuir, e às vezes ser o fator principal, da doença mental. 

{* N. do T.: Não traduzida ainda, mas pode ser lida no texto original, das páginas 78 a 98: https://drive.google.com/file/d/0B-YRE-dLph2XX1IyUlhpYU43V0U/view?usp=sharing}

Quando permitimos o pecado em nossa vida, é algo imediatamente mais sério, pois traz em cena nossa responsabilidade perante Deus. Isto é visto claramente no caso de Nabucodonosor em Daniel 4, cujo estado mental foi permitido por Deus por causa de seu orgulho. Tal pecado é obviamente diferente da tendência à doença mental que é herdada, pois envolve o que as Escrituras chamam de "o pecado que tão de perto nos rodeia" (Hebreus 12:1). Embora não exista dúvida de que a tendência a esses pecados que nos rodeiam é muitas vezes transmitida de família, ainda assim devemos traçar uma distinção entre o que é o resultado do pecado e o que é o próprio pecado. Pensamentos pecaminosos e comportamento ruim podem precipitar a doença mental, e aqui temos, definitivamente, um problema espiritual. Há, no entanto, encorajamento para lidar com isso, pois como crentes podemos conhecer a libertação do pecado pois o Senhor Jesus morreu pelos pecados. Falaremos mais sobre esse assunto quando discutirmos o tratamento.

Por exemplo, raiva suprimida que é mantida em oculto no coração pode trazer a depressão, e a depressão não melhorará até que isso seja reconhecido e tratado. Muitas histórias sobre isso podem ser contadas. Um homem entrou no quarto de um amigo que havia caído várias vezes em depressão, de modo a precisar de hospitalização, e sem rodeios perguntou: "OK, do que você está com raiva desta vez?". E funcionou. O paciente desabafou e começou a se recuperar. Outro exemplo é dado por E. C. Hadley em seu livro "You Can Have a Happy Life" (em português, "Você Pode Ter uma Vida Feliz", não disponível em língua portuguesa). Ele comenta:
"Podemos não estar plenamente conscientes do fato de que o pecado e a vontade própria são a causa de nossos temores ansiosos. É tão fácil enganarmo-nos a nós mesmos e acreditarmos que alguém ou alguma coisa além de nós mesmos é o responsável. No entanto, nunca nos livraremos de nossos medos ou teremos qualquer paz real até admitirmos a verdade e acertarmos as contas com Deus. 
"Uma jovem, criada em um lar cristão, começou a fazer coisas que sua consciência condenava. Não querendo admiti-las e confessá-las a Deus, ela começou a convencer-se a si mesma primeiramente de que Deus não se importava, e depois de que não havia Deus. Por muitos anos ela afirmava ser ateia. Mas o pecado em sua vida gradualmente se desenvolveu em ansiedade e medo. 
"Ela finalmente sentiu como se estivesse perdendo a cabeça e acabou em um hospital psiquiátrico. Muitos remédios foram tentados, mas nenhum alívio veio até que ela encarou o fato de que ela estava tentando tirar Deus de sua vida. Uma vez que ela confessou seus pecados e rendeu-se a Deus, ela foi capaz de sair do hospital livre de suas ansiedades e medos, e com sua consciência limpa."
Às vezes tentamos culpar o mau comportamento a alguma causa física tal como uma anormalidade no cérebro. Um caso assim envolveu um proeminente político que estava atendendo a uma conferência de imprensa. Segue o relato do que aconteceu, escrito por alguém que o ouviu:
"Esse político que possuía uma campanha antidrogas foi um homem evasivo e que nunca assumiu suas culpas e responsabilidades através de seus dois mandatos. Embora ele tivesse enfrentado constantes encargos legais, nenhum deles foi bem sucedido. Desfalque, venda de favores políticos, uso de drogas -- ele sempre era acusado mas nunca declarado culpado.  Um dia ele foi flagrado no ato da compra e uso de drogas ilegais. Estava tudo gravado em uma fita. Como ele escaparia dessa vez? 
"Enquanto se movia em direção ao pódio, um repórter gritou: 'Por que você fez isso? Por que você mentiu por todos esses anos?'
Sua resposta foi imediatada: 'Eu não fiz isso', ele respondeu. 'Meu cérebro estava bagunçado. Foi meu cérebro que fez isso. Minha doença fez isso!'. Não havia qualquer sinal de remorso -- apenas indignação de que alguém tivesse feito tal pergunta"* 
{* Welch, Edward T., Blame It on the Brain. (Phillipsburg, NJ, P & R Publishing Co., 1998), pg. 13 }

Esse homem certamente não estava mentalmente doente no verdadeiro sentido da palavra, mas estava de fato inventando uma desculpa para seu comportamento pecaminoso dizendo que ele não era responsável pois supostamente seu cérebro estava bagunçado!

Todos estamos familiarizados com o bem conhecido caso de Judas Iscariotes, um discípulo do Senhor Jesus que O traiu por dinheiro. Quando o Senhor Jesus não usou Seu poder divino para escapar, mas sim permitiu-Se ser preso, registra-se que Judas devolveu o dinheiro e então cometeu suicídio. Sem dúvida ele lamentava o que tinha feito, mas sua tristeza era mais pela consequência do seu pecado do que pelo próprio pecado. As Escrituras nos dizem que "a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte" (2 Coríntios 7:10). O pobre Judas sentiu tanto remorso que ele "retirou-se e foi-se enforcar" (Mateus 27:5). Tal foi o terrível resultado do pecado que ele permitiu em sua vida! 

Até agora, mencionamos alguns exemplos de doença mental onde o pecado voluntário foi a causa primária do problema. No entanto, o pecado voluntário pode ser um sério fator na doença mental que tem sua origem primária no pecado como efeito da queda do homem. A pré-disposição à doença mental pode ser herdada, mas as manifestações externas de tais tendências podem ser o resultado do pecado voluntário na vida de alguém. Uma propensão à doença mental que, de outra forma, permaneceria latente (dormente) pode ser despertada pelo pecado voluntário. Episódios de doença mental são, às vezes, uma reação específica à ansiedade severa proveniente da incapacidade de lidar com as exigências da vida adulta. Tal dificuldade pode ter suas raízes em uma educação permissiva, onde houve uma falta da disciplina necessária para formar adequadamente o caráter do indivíduo. Um médico (crente) que tratou um grande número de estudantes universitários fez a seguinte observação: 
"Crianças que nunca foram condicionadas por algumas frustrações durante os primeiro quinze anos de vida não se tornam muito preparadas para lidar com as exigências da vida adulta sem experimentar um estresse incomum."*
{* McMillen, S. I., M.D., None of These Diseases. (Fleming H. Revell, Westwood, NJ, 1958), pg. 124}

O Dr. Douglas Kelly, psiquiatra chefe dos julgamentos de Nuremberg, afirmou que criamos "uma geração de crianças que não foram ensinadas à disciplina necessária para se dar bem neste mundo... Temos sido entusiásticos demais em nossa recusa em ensinar o controle para que não traumatizemos as crianças."* Se ele tivesse feito essa afirmação a mais de quinze anos atrás, o que ele diria hoje? As crianças que foram disciplinadas mentalmente e fisicamente para trabalhar, para aceitar as restrições em seus comportamentos, e para direcionar suas emoções e energias para fora em vez de para dentro, não desenvolverão tão facilmente a doença mental, mesmo que tenham a predisposição a ela por hereditariedade. Falaremos mais sobre o assunto quando considerarmos as circunstâncias e o efeito do pecado vindo de fora. 

{* Psychiatry at Work, (Time Magazine, July 18, 1955), pg. 55. }

Em nossa discussão sobre o escopo da doença mental mencionamos os distúrbios de personalidade, e como o pecado algumas vezes distorce a "composição" do indivíduo de modo que seus padrões de comportamento se desviam marcadamente dos demais. É triste dizer que esse efeito do pecado na personalidade de uma pessoa às vezes conduz ao pecado voluntário, no qual o indivíduo fica irritado por não ser aceito como uma pessoa normal. Em vez de admitir o problema e procurar ajuda para lidar com ele, a pessoa ataca os outros. Ela pode negar que tem um problema, escolhendo, em vez disso, considerar-se normal e os outros como anormais. Tais pessoas estão condenadas a levar uma vida muito infeliz até que encarem o problema, o admitam, e busquem a ajuda do Senhor. Em outros casos o indivíduo é geneticamente predisposto a sua estrutura de personalidade ruim, mas então sua vontade toma essa tendência e permite que aja em pecado aberto. Isto é particularmente verdadeiro no sério distúrbio às vezes chamado de personalidade anti-social ou "psicopática". Deixados por si mesmos, tais indivíduos muitas vezes acabam vivendo uma vida criminosa, a menos que a graça de Deus os alcance e os salve. 

Vícios e dependências químicas também fazem parte desse aspecto de doença mental e estão conectados a uma tendência herdada que a pessoa então permite aflorar até ao ponto em que se torna pecado. Uma vez que este é um assunto muito amplo, vamos reservá-lo para uma discussão mais aprofundada mais adiante neste livro.

A questão do pecado voluntário também nos traz a uma discussão sobre nossa responsabilidade moral na doença mental, o que veremos no próximo capítulo.