terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Outras Formas de Ser um Auxílio

Ao considerarmos o auxílio que podemos dar aos outros, não devemos nos sentir desamparados mesmo se não tivermos o dom de pastor. Há muitas formas que o auxílio pode tomar, e o grau de ajuda que alguém pode oferecer será determinado não apenas pelo dom individual, mas também por sua maturidade e sabedoria nas coisas espirituais. Isto, por sua vez, dependerá muito do quão próximo a pessoa estiver andando com o Senhor. Assim como "a oração [fervente] feita por um justo pode muito em seus efeitos" (Tiago 5:16), assim um crente que está vivendo em proximidade com o Senhor terá a mente dEle e será de muito maior ajuda em tais situações do que um que é meramente inteligente, em um sentido natural. Além disso, como vimos nas Escrituras que já citamos de 2 Coríntios 1:3-6, é muitas vezes aquele que, ele próprio, já passou por dificuldades, que pode ajudar o próximo que está passando por uma provação similar. Isto não é o mesmo que dizer que precisamos experimentar a doença mental de modo a sermos capazes de ajudar outro crente que tem esse problema, mas faz-nos perceber que aqueles que já passaram por provações com o Senhor são geralmente mais equipados para auxiliar outros do que aqueles que podem ter tido um caminho mais fácil.

O auxílio dado pode tomar diferentes formas. Às vezes, a simples preocupação e companheirismo do outro, com o conhecimento de que outros estão orando por ele, podem ser de imensurável ajuda a alguém que está sofrento de doença mental. Provavelmente, muito do que se passa por doença mental neste mundo está relacionado à falta (ou falta aparente) de amor e entendimento por parte dos outros, e o cuidado e preocupação expressa pelos outros muitas vezes contribuem muito para com o alívio dos sintomas. Devemos estar dispostos a sermos bons ouvintes, a aceitarmos a pessoa (não seu pecado), e orar tanto com ela quanto por ela. É claro que sabedoria deve ser usada aqui, e um entendimento do problema particular do indivíduo ditará como o auxílio pode ser dado. Por exemplo, pessoas que estão deprimidas são geralmente mais ajudadas por visitas curtas daqueles que são otimistas e positivos, ao mesmo tempo em que são sérias e capazes de comiserar com a pessoa sobre seus sentimentos. Elas não são ajudadas por longas visitas e longas exortações das Escrituras.

Se sentimos que conhecemos e entendemos o indivíduo mais profundamente, e podemos passar mais tempo com ele, então podemos ser capazes, gentilmente, de sondar as dificuldades ou experiências passadas que possam estar contribuindo para com o problema. Isto requer muita sabedoria e dependência do Senhor, pois tal tipo de aconselhamento é algo sério de empreender, e não deveria ser tratado levianamente. Já vimos que a doença mental é complicada, e o tratamento deve ser aplicado com cautela. Ao tentar ajudar alguém nessa situação, devemos ser cuidadosos para não fazermos declarações definitivas sobre eles e sobre sua doença a menos que estejamos muito certos sobre o quê estamos falando. Muito mal já foi feito por aqueles que, tendo apenas uma visão simplista e desequilibrada da doença mental, fizeram julgamentos rápidos e declarações precipitadas. Como resultado, às vezes o conselho impensado e ingênuo é dado em vez de uma sabedoria piedosa. Em vez disso é melhor fazer perguntas, compreender a pessoa e conduzir seus pensamentos  de modo que eventualmente ela verá por si mesma o ponto que precisa ser tratado. Conhecimento da Palavra de Deus é necessário, assim como a maturidade espiritual para aplicá-la corretamente, mas isto também deve vir acompanhado da direção do Senhor. Frequentemente Ele nos dará uma passagem e um pensamento específico das Escrituras para colocar diante de alguém que lidará com o problema, trazendo-o na presença do Senhor. Nosso objetivo deveria ser, não de ter domínio sobre a fé deles, mas sim de sermos cooperadores de sua alegria -- veja 2 Coríntios 1:24.

Muitas vezes indivíduos sofrendo de doença mental precisarão ser "carregados" por algum tempo, pois eles parecem melhorar e então têm uma recaída em pensamentos e comportamentos similares novamente. Não devemos deixá-los ir tão cedo, e devemos estar prontos para ajudar quando o problema retorna. Aqueles com doenças mais severas podem ter de ser carregados, até certo ponto, durante toda a sua vida.

Confiando nos Outros

Outra dificuldade surge, particularmente com a doença mental, porque os crentes sentem-se embarassados e hesitantes em confiar em alguém que os conhece bem, e com quem talvez vivam e convivam regularmente. Eles sentem-se envergonhados de admitir que um problema tal qual a doença mental exista, e talvez temem tornarem-se assunto de fofocas. Infelizmente tais temores são, às vezes, jutificados. Como resultado, alguns crentes podem buscar ajuda de fontes mundanas em vez de serem ajudados por um verdadeiro pastor.

Deveríamos estar sempre dispostos a confiarmos mais uns nos outros, pois as Escrituras nos dizem para "confessar as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis" (Tiago 5:16). Creio que essa cura inclui as doenças mentais, assim como as físicas. Se houvesse maior disposição em reconhecer tais problemas, confessá-los uns aos outros, e orarmos juntos, creio que veríamos mais resultados positivos. Tal confissão não significa "querer se aparecer", onde deliberadamente buscamos em nosso coração e experiência quantas falhas pudermos lembrar, apenas para espalhá-las a nossos companheiros crentes. Não, não é isso o que as Escrituras querem dizer, pois Deus nunca nos ocupa com o pecado e a falha exceto para nos fazer tratar disso. Mas se uma dificuldade particular se apresenta em minha vida, seja física ou mental, que possamos ter a graça de primeiramente trazê-la perante o Senhor, e então estarmos dispostos a mencioná-la a outros, pedindo que orem por nós. Lembremo-nos também que todos nós sentimos os efeitos do pecado em nossas pessoas, de um modo ou de outro. Se alguns passam por maiores dificuldades do que outros, é apenas uma oportunidade para que a graça de Deus possa abundar.

O Dom de Pastor

Aqui é onde entra o dom de pastor, um dom que é muito necessário, mas talvez muito raro. É um dom que muitas vezes não é apreciado como se deveria. Por causa da natureza da obra pastoral, pouca glória humana é associada a ela, pois ela é exercida, na maior parte, nos bastidores. É dispendiosa e às vezes não apreciada nem mesmo por aqueles a quem está sendo dirigida. Ainda assim, tal dom, quando adequadamente usado perante o Senhor, pode ser de valor inestimável em casos de doença mental entre os crentes. O valor de tal dom é expresso como segue:
"Eu creio que um pastor é um dom raro... Um pastor deve ser como um médico; ele deve conhecer o verdadeiro alimento, e o verdadeiro medicamento, e o verdadeito diagnóstico, e toda a "pharmacopoeia", e também deve saber como aplicar isso tudo. Em um sentido é um dom raro, e muito precioso." *
{* Darby, J. N., Substance of a Reading on Ephesians. (The Collected Writings of J. N. Darby, Vol. 27, Stow Hill Ed.), pg. 74 }

Outro comentou de modo similar:
"Parece-nos que um pastor é para a alma o que um médico é para o corpo. Ele deve ser capaz de sentir o pulso espiritual. Ele deve entender a doença e o remédio. Ele deve ser capaz de dizer qual é o problema, e qual remédios aplicar. Infelizmente, quão poucos médicos adequados há. Talvez sejam tão raros como pastores adequados. Uma coisa é tomar para si um título, e outra coisa é fazer a obra". *
{* Mackintosh, C. H., Publicly and From House to House. (Things New and Old, Vol. 19), pg. 130 }

Há duas dificuldades ligadas à obra de um pastor. Já falamos de uma delas, a saber, a raridade do dom. Quantas vezes uma pessoa anseia pelo coração de um verdadeiro pastor, sobre quem as dificuldades possam ser derramadas! Mesmo que alguém tenha o dom de um pastor, a pressão e a correria dos dias em que vivemos às vezes tornam difícil para que se tome o tempo para o verdadeiro trabalho que é necessário nesse caminho. O ensino e o ministério público podem ser muito úteis, mas muitas vezes erram o alvo pois passam sobre as cabeças daqueles que mais precisam. É na obra pastoral que a verdadeira natureza das dificuldades pode ser descoberta, e as palavras certas dadas.

Escrituras, Psicologia e Psiquiatria

Nesta área do espiritual, as Escrituras e a psicologia (e psiquiatria) podem conflitar entre si. As Escrituras são a revelação de Deus ao homem, e deste modo faz muitas coisas além das capacidades humanas. Elas dão vida através do Espírito, ela julga (mas não é julgada pelo homem), e ela se comunica com o homem, dando-lhe todas as coisas que pertencem à vida e à piedade. Assim ela alimenta sua alma. Ela explica ao homem sua natureza e seu comportamento, o que o anima, e o que o controla. Além disso, ela diz-lhe o que são seus relacionamentos morais, e quais são suas responsabilidades nesses relacionamentos. A psicologia, por outro lado, é o estudo da natureza humana sem referência a Deus ou à Sua revelação, e assim não pode, em si mesma, erguer-se além da observação do homem. Ela não pode descobrir "leis" que expliquem a natureza das coisas como Deus as projetou: ela pode descobrir apenas "padrões" que foram observados como sendo geralmente verdadeiros, mas que por si só não explicam a natureza das coisas.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Físico vs. Espiritual

Mostramos que a doença mental comumente envolve múltiplos fatores, incluindo o corpo (o cérebro) e a alma e espírito, assim como as circunstâncias que podem neles agir. Medicamentos e outras modalidades (tais como tratamento de eletrochoque) podem às vezes ser necessárias para ajudar o cérebro a funcionar melhor, enquanto a terapia na forma da escuta, interpretação e aconselhamento é necessária para ajudar a alma e o espírito. Há um ponto importante a ser feito aqui. Os aspectos físicos do tratamento (o uso de drogas, etc.) precisarão de supervisão profissional, mas para o crente, assuntos da alma e espírito são melhor atendidas por outros crentes espirituais. Profissionais (como os psiquiatras) podem, é claro, ser úteis em diagnosticar uma doença em particular, baseado na constelação de sintomas que apontam para um distúrbio específico. Ele pode também ser muito útil para reconhecer fatores que possam ter contribuído para com o surgimento da doença. Mas, enquanto a ciência descobriu muitas coisas para tratar o mal funcionamento do corpo (neste caso o cérebro), ela não pode tratar o comportamento moral que é afetado por uma alma e espírito distorcidos e um cérebro perturbado. Quando a doença envolve o espiritual, estamos fora do domínio da ciência e em uma área que precisa de uma revelação de Deus.

Auxílio de Outros Crentes

"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e o Deus de toda a consolação;
Que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.
Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo".
(2 Coríntios 1:3-5)

É o feliz privilégio de muitos de nós que somos crente no Senhor Jesus Cristo sermos um auxílio para outros crentes de vez em quando, e talvez isto seja muito necessário e apreciado no que diz respeito à doença mental. Isso é verdade, quer o distúbio seja mais suave, quer em tempos de tristeza ou estresse, ou quer estejamos lidando com um caso de psicose severa, no qual o indivíduo se encontra fora de si. Os versículos citados acima nos mostram claramente que Deus, nosso Pai, é a fonte de todas as verdadeiras misericórdias e consolações, e ainda assim Ele nos dá o privilégio de mostrar o mesmo amor e cuidado pelos outros assim como Ele mostrou a nós. Assim nos é dito em Gálatas 6:2: "Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo".

A Graça de Deus

Nosso bendito Senhor quer que confiemos nEle como aquEle que nos conhece e nos ama. De acordo com isso, sugerimos que o que é necessário, mais do que qualquer outra coisa, para o crente que sofre de doença mental, é um profundo entendimento, na alma, da graça de Deus. Devemos ver que a graça de Deus é Seu favor imerecido, e que ela foi estendida a nós quando não havia nada em nós para amar. Quando vemos que Ele nos ama apesar do nosso pecado (pecado que trazemos sobre nós mesmos pela desobediência), e que Ele enviou Seu Filho para morrer por nós, percebemos quanto amor há em Seu coração para conosco. Vemos mais e mais da verdade de Romanos 8:32: "Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?". Isto não implica que a graça de Deus simplesmente removerá toda a dor da doença mental mais do que Ele remove de nossas doenças físicas. Em vez disso, ele nos mostra que aquEle que enviou Seu Filho para morrer por nós para que possamos passar a eternidade com Ele é certamente capaz de nos ajudar a lidar com questões que têm a ver com nossas vidas aqui neste mundo.

Quando realmente apreciamos a graça de Deus, não iremos chafurdar em auto-piedade, ou tornarmo-nos raivosos, ou desistir em desespero. Em vez disso, aceitaremos tudo de Deus, e assim como o Senhor Jesus no jardim de Getsêmani, usaremos da oportunidade para nos aproximarmos mais do Senhor em comunhão com Ele. Buscaremos a força dEle em vez de encararmos a dificuldade com nossas próprias forças. Outra pessoa expressou isso muito bem:
"Se eu ouvir más notícias... isto me entristecerá e me derrubará, como aconteceu com Paulo, que passou por lutas por fora e temores por dentro. Mas, apesar de tão doloroso, se Satanás não tiver nada em nós, a consequência dessa depressão será comunhão com Deus, em vez de permitirmos que nossas afeições vagueem; estamos na presença de Deus, vigiamos com Ele de modo a falarmos com Ele; mas se este não for o caso, Satanás nos pegará despercebidos em momentos de descuido"*
{* Darby, J. N., Notes on the Epistle to the Ephesians. (The Collected Writings of J. N. Darby, Vol. 27, Stow Hill Ed.), pg. 58}

Mencionamos anteriormente o assunto das más experiências ou dores do passado que podem envolver nosso pensamento e alterar nosso comportamento. Embora seja desejável abordar essas coisas com aqueles responsáveis por elas, isto nem sempre é possível. Creio que possamos colocar essas coisas na presença de Deus, e em Seu entendimento e simpatia poderemos experimentar cura e bênção. O salmista podia dizer: "Porque a tua benignidade é melhor do que a vida, os meus lábios te louvarão" (Salmos 63:3). Certamente conhecer e experimentar Sua benignidade (bondade amorosa) é melhor do que qualquer coisa que o homem possa fornecer no que diz respeito à cura. Não temos que viver sob a terrível sombra de dores do passado por toda a nossa vida. Precisamos ser trazidos de volta à cruz onde vemos nosso bendito Salvador lidando com tudo isso por nós, e onde Ele levou o juízo de Deus sozinho, de modo que pudéssemos ser curados. No jardim do Getsêmani, o Senhor Jesus passou por toda a agonia da cruz ao contemplá-la, e o fez sozinho na presença de Seu Pai. Ninguém entendeu realmente o que estava acontecendo, e mesmo assim o coração do Pai foi suficiente para Ele. Saindo daquele lugar, Ele podia calmamente encarar qualquer coisa que o Pai colocasse diante dEle.

Além disso, precisamos contar com a graça de Deus e pedirmos mais dela a Ele se sentirmos necessidade dela. A Paulo foi dado um espinho na carne, provavelmente algo físico, embora o Espírito de Deus não nos tenha dito exatamente o que era. De qualquer modo, isto o incomodava tanto que ele pediu ao Senhor três vezes que o tirasse. A resposta do Senhor foi: "A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza" (2 Coríntios 12:9). Outra pessoa comentou sobre o assunto: "Sabedoria e filosofia nunca descobriram Deus: Ele se faz conhecer a nós através de nossas necessidades; a necessidade O encontra"*. Sem dúvidas, Paulo veio a conhecer o Senhor de um modo que ele não poderia se não tivesse esse problema, na graça que lhe foi dada em conexão com esse espinho na carne. Embora devamos hesitar em sugerir que a doença mental é permitida na vida de alguns de modo a permitir-lhes que venham a conhecer melhor o Senhor, ainda assim sabemos que em nossas necessidades, sejam físicas, espirituais, mentais ou materiais, Deus Se faz mais precioso para nós se tomarmos isso como vindo dEle. Paulo descobriu, como muitos outros crentes, que Deus podia usá-lo melhor em fraqueza do que em sua própria força, pois então ele teria que confiar mais no Senhor e andar em Sua força. Assim como muitos santos de Deus têm necessitado confiar na força do Senhor por causa da doença física, assim o crente pode ir ao Senhor com suas fraquezas e incapacidades mentais, pedindo a Ele a força para ajudá-lo a continuar. Sugerimos que muitos vieram a conhecer o Senhor de uma maneira mais rica e plena ao ver como Ele pode dar a graça para cada enfermidade, até mesmo  para a doença mental.

{* Darby, J. N., Parables of Luke 15. (The Collected Writings of J. N. Darby, Vol. 12, Stow Hill Ed.), pg. 168}

Concluímos esta seção com uma citação de Romanos 8. Nesse capítulo Paulo faz a pergunta: "Quem nos separará do amor de Cristo?" (Romanos 8:35) Ele então continua nos mostrando que nada pode nos separar do amor de Cristo, sejam coisas nesta vida, tais como tribulações, perigos, a espada, etc., ou coisas além do controle humano, tais como os anjos, a morte, as coisas futuras, etc. Eu sugeriria que a doença mental está incluída nessas categorias.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Responsabilidade Moral

Conectado a essa verdade está o importante princípio que mencionamos anteriormente, a saber, que somos sempre moralmente responsáveis pelos motivos de nosso comportamento. Não podemos jogar a culpa do comportamento pecaminoso em algum distúrbio biológico no cérebro. Do mesmo modo, não podemos jogar a culpa nas circunstâncias difíceis ou em alguma experiência ruim do passado, como se não fôssemos responsáveis pelo que fazemos. (Infelizmente há muito dessas desculpas de mal comportamento no mundo hoje). Nem podemos escusar nossa falha em não conseguirmos ser como Cristo tomando refúgio em nossas dores corporais, como se não pudéssemos fazer nada.  Como dissemos anteriormente, certamente as doenças mentais e físicas podem tornar-nos mais vulneráveis a um ataque de Satanás e assim tornar mais fácil o pecar, mas não podemos usar isso como uma desculpa pelo comportamento errado.

Nosso comportamento pode ser simplesmente anormal e, assim, de certo modo censurável por nós mesmos e por outras pessoas, e às vezes pode ser claramente pecaminoso. Como já observamos, às vezes a linha entre ambos os casos é fina. No final, apenas o Senhor conhece perfeitamente todos os fatores que contribuíram para nosso estado mental alterado e talvez para nosso comportamento anormal. Na presença do Senhor podemos abrir nossos corações a Ele, que conhece todas as coisas, e que se importa conosco como um pastor cuida de Sua ovelha. Lemos em Isaías 53:4: "Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si", e certamente isto inclui as dores da doença mental assim como a enfermidade que podemos experimentar. William Kelly comenta sobre esse versículo de um modo muito útil:
"Ele estava aqui neste mundo em graça, passando por um mundo arruinado, necessitado e triste, pronto a ajudar a qualquer que viesse a Ele, todos os que Lhe eram trazidos, endemoniados ou doentes; e uma palavra era suficiente para o pior. Assim foi cumprido Isaías 53:4 (não ainda a obra vicária [substitutiva] do versículo 5, em sequência). Certamente aquilo não era sacrificial... era o poder que dissipava a doença de qualquer paciente que entrava em contato com Ele; e isso tudo não como alguém em distância insensível, mas alguém que (em amor tão profundo como Seu poder) tomou tudo, levou tudo, sobre Seu espírito com Deus."*

{* Kelly, W., Christ Tempted and Sympathizing. (The Bible Treasury, Vol. 20), pg. 189}

domingo, 10 de dezembro de 2017

Lidando com o Pecado -- A Raiz

Há muitos versículos na Bíblia que nos mostram claramente que o sangue de Cristo lançou fora de vista os pecados do crente. Em passagens como Romanos 6, a questão do pecado é tratada, em sua raiz e princípio. Ali encontramos a verdade mais a fundo de que na morte de Cristo, Deus viu o fim moral do homem natural. "Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado" (Romanos 6:6). Deus nunca perdoa a velha natureza -- morte é o único remédio para ela. Por causa da morte de Cristo, somos agora capazes de obedecer ao comando de "considerai-vos certamente mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 6:11). Uma vez que o crente que está "em Cristo" morreu também para o pecado, ele é instruído a tomar essa posição na prática, pois foi colocado nessa posição pela morte de Cristo. Como já mencionamos, a realização prática disso é algo progressivo na vida do crente. Devemos estar prontos a desistir de nós mesmos quanto a nossa velha natureza, se formos permitir que Cristo viva em nós. Quando fomos salvos tínhamos que chegar ao fim de nós mesmos, percebendo nossa completa incapacidade de nos livrarmos de nossos pecados por nós mesmos. Na vida cristã devemos também perceber a total ruína do "homem velho" (o que somos como membros da raça caída) se quisermos andar como cristãos da maneira correta. Enquanto nos concentrarmos em meramente controlar o mau comportamento, nunca perceberemos qualquer alívio permanente do pecado voluntário.

Ao dizer essas coisas, reiteramos o que foi mencionado anteriormente, a saber, que o pecado que permitimos em nossa vida é apenas uma causa que contribui para a doença mental. Nos demoramos nisto um pouco aqui porque é um grande fator que contribui para isso e que é provavelmente mais difundido do que percebemos, e para o qual nem sempre é dada a atenção merecida. Por outro lado, não queremos que o leitor deduza a partir destes comentários que estamos querendo dizer que toda doença mental é devida ao pecado voluntário. Em vez disso, estamos dizendo que é um fator que deve ser considerado, e se presente, deve ser tratado.

O Sofrimento como um Resultado do Pecado Voluntário

Mesmo que causemos alguns dos problemas pelos nossos próprios pecados que permitimos, lembremo-nos que se viermos ao Senhor falar sobre isso, Ele sempre nos encontrará em amor. Eu conheci um homem (já com o Senhor) que tinha perdido sua juventude e que sofreu de dano cerebral permanente como resultado do constante abuso de álcool. Ele foi obrigado a passar o resto de sua vida em uma instituição, e sua atitude e comportamento inicialmente dificultaram bastante para os funcionários que estavam ali para cuidar dele. Mas então ele aceitou o Senhor Jesus como seu Salvador, e embora suas capacidades mentais ainda fossem muito limitadas e seu comportamento não totalmente normal, a mudança nele foi marcante. Ele tornou-se fácil de lidar, sempre levava um sorriso no rosto, amava falar sobre o Senhor, e tomava parte proeminente no cântico de hinos que ocasionalmente ocorria no lugar em que vivia. Ele eventualmente faleceu, com idade relativamente jovem, mas ele foi certamente um caso onde "ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia" (2 Coríntios 4:16).

Se há pecado em nossa vida que contribui para com o problema, podemos trazê-lo diante do Senhor e lidar com isso. Muito do estresse em nossa vida deriva disso, e talvez nem sequer percebamos. Novamente, e gostaria de enfatizar muito bem este ponto. Muitos queridos crentes estão, de fato, tentando andar como filhos da luz. À medida que falhamos em produzir o fruto dessa luz, podemos nos tornar desiludidos pois somos dirigidos por algo que vem do profundo de nosso interior e que ainda não compreendemos. Talvez tenhamos entendido corretamente a salvação como um presente gratuito, mas não ter entendido que devemos operá-la com temor e tremor (Filipenses 2:12). Não entendemos adequadamente que a santificação (sermos separados para Cristo) é um processo assim como uma posição. Assim, tendemos a forçar em termos de controlar o comportamento em vez de o fazermos pela renovação da mente (Romanos 12:2). Em vez de um comportamento realmente mudado, o resultado é a repressão da carne em vez de morte para ela. Controlamos as tendências más enquanto permitimos que permaneçam armazenadas no coração. Então, quando o comportamento entra em erupção, o que não é de acordo com Cristo, lutamos intensamente para controlar o comportamento ou repreender o diabo (que teve matéria-prima para trabalhar, mesmo que tenha sido ele quem disparou o comportamento), em vez de lidar com a verdadeira raiz do problema.

sábado, 9 de dezembro de 2017

Ele Dá Graça

Se o problema decorre principalmente de uma tendência hereditária a um distúrbio de comportamento em particular, Ele pode nos dar a graça para tomar isso dEle, e para viver para Sua glória apesar disso. Ele pode nos mostrar que tipo de tratamento pode ser útil, e pode nos ajudar a ordenar nossas vidas de modo a sermos capazes de lidar com o problema.

Se o assunto envolve circunstâncias difíceis, talvez pelo estresse na família ou no local de trabalho, Ele deseja que coloquemos o fardo sobre Si. Ele disse: "Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" (1 Pedro 5:7). Ele nos dará graça para suportar as circunstâncias difíceis, pois Ele experimentou o mesmo. Assim como Ele glorificou o Pai nas circunstâncias mais difíceis, assim Ele deseja dar-nos graça para assim fazê-lo também. Se alguma mudança em nossas circunstâncias forem úteis para aliviar o estresse, Ele nos mostrará como fazê-lo. Isto não significa dizer que Ele necessariamente retirará a fonte do problema, mas ao trazermos o assunto perante Ele podemos buscar e esperar Sua simpatia e direção. Ele pode nos ajudar a não "quebrarmos" sob o peso das circunstâncias, e em vez disso nos dar a força para sermos vencedores.